domingo, 29 de novembro de 2009
SÉCULO XXI: MALTHUS E MALTESES
No ano 10.000 antes de Cristo, a população da Terra seria entre 1 e 10 milhões de almas e, no primeiro ano da era cristã, de 170 a 400 milhões. Há pouco mais de 50 anos aquele número estava compreendido entre 2,4 e 2,55 milhares de milhões e é actualmente de cerca de 7 mil milhões. Embora a taxa de crescimento tenha desacelerado a partir dos anos 60 (figura ao lado), prevê-se que existirão mais de 9 mil milhões de criaturas humanas na superfície terráquea em 2050.
A capacidade de fornecer alimentação, água, energia e cuidados básicos de saúde a toda essa gente não existe agora e existirá ainda menos no futuro. Neste momento, 800 milhões de pessoas sofrem de subnutrição e 2 mil milhões têm uma alimentação deficitária, qualitativa ou quantitativamente. Quarenta por cento da população actual tem água insuficiente para o consumo mínimo e o World Water Assessment Program estima que nos próximos 20 anos a quantidade de água disponível per capita diminuirá 30%. E 50% das reservas mundiais de petróleo, uma das principais fontes energéticas no actual paradigma internacional, foram consumidas (figura em baixo); existem ainda perto de 1 milhão de toneladas de reservas de carvão, mas a sua utilização como combustível começa a tornar-se impraticável se não forem investigadas e postas em marcha técnicas de reduzir a poluição que ocasiona; as energias alternativas renováveis, com excepção da hídrica, estão em estado embrionário; e o nuclear tem problemas ambientais que carecem ainda de muita digestão científica, tecnológica, política, filosófica, sociológica, ecológica, e não só.
A vontade política de resolver os problemas mencionados não tem sido um prodígio de voluntarismo. Mas também é preciso dizer que, com o aumento da humanidade, a capacidade de assistir os povos mais desprotegidos não consegue atingir os objectivos pretendidos. Por outro lado, a discussão desta matéria está inquinada por uma disputa sem solução. Tipicamente, o representante duma nação rica dirá que o mundo está ameaçado pela catástrofe causada pelas alterações climáticas, ou pela depleção dos recursos naturais, ou pela diminuição da biodiversidade, e não pode continuar a suportar o crescimento populacional; e que, para preservar o ambiente, é preciso controlar o crescimento da população mundial, concentrando-nos nos países pobres, onde ele ocorre principalmente.
O representante do país pobre dirá que, se o mundo enfrenta uma crise ambiental, isso não é da responsabilidade dos pobres, os quais usam poucos recursos; que a culpa é dos países ricos ao utilizarem imensos recursos e energia, causando a maior parte da poluição; e que, em boa verdade, deviam diminuir o consumo, quer para promover a justiça no acesso aos bens da civilização, quer para preservar o meio ambiente.
Por outro lado, dizemos nós agora, a intensificação da agricultura para acorrer ao problema da fome não é matéria pacífica. A agricultura intensiva reduz a biodiversidade, fragmenta ecossistemas naturais como a floresta, polui reservas de água e consome quantidades apreciáveis de energia, contribuindo eventualmente para o aquecimento global.
Malthus está enterrado e a corrente neo-malthusiana, agora pudicamente chamada de planeamento familiar, não acrescentou muito à resolução do problema. Definitivamente, há coisas com que a humanidade tem de se habituar a viver. São tão antigas como ela e só morrerão com ela, se alguma vez a humanidade morrer.
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