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Os executivos dos bancos americanos responsáveis pela crise de 2008, que exigiu do governo avançar com 245 mil milhões de dólares para salvar o sistema financeiro do País, receberam, como prémio da sua “brilhante” gestão, quase 20 mil milhões. Nesse ano, 3 milhões de casas de americanos foram “ao ar”, deixando uma multidão na rua, dada a impossibilidade de pagar as hipotecas feitas nos ditos bancos. Não obstante, o Citigroup por exemplo, não hesitou em comprar um jacto para executivos no valor de 50 milhões, logo no ano seguinte, depois de receber 45 mil milhões de dólares do tesouro público, ou seja, dinheiro dos contribuintes. Alguns dias mais tarde, Barack Obama, numa entrevista, dizia a respeito do jacto que era de esperar outro comportamento e que os prémios recebidos eram uma vergonha.
A vergonha, coisa que vai escasseando, é um sentimento fundamental para o condicionamento do comportamento em relação à sociedade. Em princípio deve ocorrer sempre que o indivíduo tem procedimentos à margem do grupo onde se insere e funciona como alerta para a possibilidade de represália por parte dos pares, ou o conjunto dos outros indivíduos.
Estudos realizados nos Estados Unidos mostram que a vergonha é mais provável quando há o sentimento de se ser observado. Na caixa de contribuições para caridade colocada numa instituição de benemerência que servia livremente bebidas no bar, os pagamentos eram mais frequentes e generosos quando junto da caixa estava colocado um poster com dois olhos voltados para os potenciais dadores do que quando estava lá uma imagem impessoal. Os gestores financeiros que lançaram meio mundo no caos praticaram a falta de escrúpulos, durante muitos anos, no anonimato e na sombra, longe de posters com imagens de olhos a mirá-los. Foi a bomba que lhes rebentou nas mãos que colocou na ribalta, debaixo de potentes holofotes, a sua ordinária vulgaridade e pulhice.
Mas há pessoas sem vergonha, afirmação que não resulta de mera conclusão empírica. Há estudos que a confirmam. Estudantes jovens observados quando participam em jogos exigentes em matéria de cooperação com um grupo, não sentem qualquer sentimento negativo, ou vergonha, com a falta de espírito colectivo, nem tentam melhorar o comportamento. Há uma parte da população que se comporta sempre sem vergonha, especialmente quando isso traz benefícios. São conclusões científicas, não mera especulação.
Alguém falou em dar a maior publicidade aos montantes auferidos individualmente pelos banqueiros sem escrúpulos, com o propósito de os punir na praça pública. Mas acabou por prevalecer a opinião que o único efeito que isso iria ter era criar inveja entre eles! Não vergonha!! Está tudo dito.
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