quinta-feira, 14 de julho de 2011

HISTÓRIA DE UM COLOSSO


No Editorial do “Diário Económico” de hoje lê-se este trecho:

O dicionário explica-nos que um colosso é uma estátua excepcionalmente grande. Para a história ficaram vários colossos, o mais conhecido foi o de Rodes, uma das sete maravilhas do mundo antigo.
A economia portuguesa também tem vários colossos mas nenhum deles é uma maravilha. As dívidas do País ao estrangeiro, o endividamento do Estado e o défice orçamental são colossos que também vão ficar para a história pelas piores razões. Por isto, não são de estranhar as palavras de Pedro Passos Coelho no conselho nacional do PSD, nem é de espantar o novo imposto colossal que vai tirar às famílias metade do subsídio de Natal.

Estou de acordo com a prosa do jornal, incluindo a referência ao colosso chamado imposto excepcional sobre o 13º mês, mas tenho uma reserva a pôr: em minha opinião, ao contrário do que ali se escreve, as palavras de Passos Coelho são de estranhar. Coelho não devia ter dito aquele bitaite porque, primeiro, é uma pessoa de palavra suave, bons modos e brandas atitudes, e tem feito a diferença em relação ao estilo crispado e “varinóide” do Zézito, de mão na anca e canastra à cabeça. Depois, porque havia prometido não invocar o passado e acaba por o fazer. Por último, porque os decantados mercados, ao ouvir estas coisas, enervam-se.
Dir-me-ão que Passos Coelho estava a falar numa reunião do Conselho Nacional do seu partido, ou uma cangalhada assim, reunião à porta fechada e supostamente de âmbito restrito. Mas o presidente do PSD devia saber com quem está metido: na realidade, com um bando de politiqueiros oportunistas, alguns subornados por redacções de jornais. Espero que tenha aprendido e trate futuramente os correligionários como a gente que é, ou seja, gente rasca que vem contar cá para fora o conversado nas assembleias partidárias privadas. 
Mas a novela tem mais contornos. Um comentário passageiro e irrelevante numa reunião privada, objecto de fuga ordinária através de bufos ao serviço de jornalistas aflitos para não perder o emprego, transforma-se num caso nacional. O PS, que sempre foi um partido de confronto e crispação, com o clímax durante o reinado do Zézito, mantém a tradição e, pela boca do inefável Vitalino Canas, ameaça pedir a audição parlamentar do Primeiro-Ministro para explicar essa coisa caluniosa do desvio colossal das contas públicas. Explicação bem fácil aliás, dada já pela imprensa, ao referir a discrepância entre o défice acordado com a troika e os dados do INE sobre o mesmo défice. O PS asneou até ao derradeiro minuto da governação, se assim se pode chamar à sua actuação enquanto ocupou o poder, e não quer que se saiba.
Assim é a política, tradicionalmente, na terra dos lusitos: muita parra e pouca uva, porque as ideias são um deserto e a prática dos políticos como Vitalino Canas, verdadeiro ex-libris do vácuo só comparável a Lello, é par(a)lamentar. Ainda não se refizeram da banhada eleitoral recente, consequência directa de falta de competência e urbanidade, e já dão sinais de não querer arrepiar caminho. Não têm emenda!
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