.
Em média, 60 pessoas por dia recorrem à DECO porque não conseguem pagar as dívidas que contraíram. No primeiro semestre deste ano, 10.700 cidadãos recorreram ao Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS). Só no mês de Junho, foram 1.606, em contraste com 875 no mesmo mês do ano passado. Pelo facto de muitas dessas pessoas chegarem já em situação de incumprimento, do total das 10.700, o GAS só pôde assistir 2.112.
Muitas são funcionários públicos a quem o rendimento mensal foi recentemente reduzido, o que associado a elevado nível de endividamento, precipitou a impossibilidade de honrar compromissos assumidos. Basta referir que o rendimento médio dessas pessoas nem sequer é muito baixo: anda pelos 1.500 euros mensais. Mas a média dos créditos a pagar é de cinco por família, o que constitui número inesperado porque inclui seguramente coisas como o automóvel e electrodomésticos supérfluos, além da compra de habitação, essa sim indispensável face ao actual mercado de arrendamento.
Em minha opinião, o problema é cultural, fruto de campanhas de marketing pouco escrupulosas, sem esclarecimento cabal dos consumidores. Muitas vezes o crédito é empurrado sem que a pessoa sequer tome consciência de que está a assumir mais um compromisso a somar a outros que já tem. É assim nas agências de viagem, na venda de “lixo cultural”, sob a forma de colecções de livros, medalhas, pinturas e outros mamarrachos inúteis, é assim com aparelhos electrónicos associados a programas de fidelização; assim também com jóias promovidas sob a enganadora promessa de vender uma reserva para futuras dificuldades e que depois rende nada, e por aí fora.
A DECO cumpre a nobre missão de tentar minorar o drama vivido pelos endividados e desesperados e merece por isso o nosso respeito. Outra instituição falta neste País: o Gabinete de Aconselhamento ao Futuro Endividado. Uma organização que, usando os mesmos veículos do marketing encorajador do endividamento, fizesse campanhas públicas com visibilidade bastante para frenar no cidadão impulsos consumistas, antes de se enterrar até aos colarinhos.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário