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Um dos aspectos mais deprimentes de quem existe é entrar na senilidade sem perceber o que se passa e tentar parecer que não passa nada. Manter e multiplicar actividades para demonstrar aptidão, capacidade e prontidão. Falar e escrever para fazer prova de vida intelectual. Protagonizar para permanecer na ribalta, mesmo interpretando o ridículo. Ignorar essa coisa clássica do crepúsculo dos deuses. Não ter senso comum numa idade em que devia abundar. Tentar escrever “Os Lusíadas”, como alternativa a editar “O Dolicocéfalo”, por exemplo.
Não há, de momento, melhor exemplo de uma criatura assim que o Dr. Soares, personalidade incontornável, nestes dias de incerteza nacional e internacional, para quem pega num jornal, ouve um noticiário, ou assiste a um telejornal. Há agitação na Grécia? Lá vem ele. Crispação no Eurogrupo? Também. Ameaça à integridade moral de Kadafi? Idem. Crise na Transilvânia? Igualmente. A senhora Merckel tem flato? Idem aspas. O Dr. Soares vai a todas! Não falha uma!
Agora vem aí um livro: chama-se “Portugal Tem Saída – Um Olhar Sobre a Crise” e é escrito em colaboração com a jornalista Teresa de Sousa. Um livro pois claro, porque o Dr. Soares precisa de comunicar, como o baladeiro de Solnado. Ainda não tiveram o privilégio de o ler aqueles que fazem propósito disso e a quem desejo boa sorte, mas já se conhecem pormenores. Por exemplo, acha o lúcido senador que o actual Presidente da República podia ter evitado a crise política, mas ficou estranhamente silencioso, apesar de lhe ter feito um apelo público “angustiado” para que a evitasse. É verdade! Estava o Dr. Soares angustiado com a queda iminente do Zézito, único timoneiro capaz de afastar Portugal da procela como já havia feito centenas de vezes antes, e Cavaco não o ouviu!
Mas o Dr. Soares diz mais: a oposição falhou quando levou à queda do governo socialista, numa “insensatez tremenda”. Para o Dr. Soares, a queda de qualquer governo socialista é sempre insensatez - e tremenda! - mesmo quando o chefe do governo socialista é um incompetente irresponsável como o Zézito.
Zézito que, segundo o senador, foi “um líder forte”, com “grandes virtudes” e “alguns defeitos”. Para quem não está habituado a ler o pensamento do Dr. Soares, eu traduzo: líder forte com grandes virtudes significa que ganhava eleições para o Partido Socialista, mesmo à custa de mentiras e muitas borradas; e alguns defeitos é porque era um asno.
Mas o Dr. Soares não podia deixar a senhora Merkel de fora, pois claro. A senhora tem sido uma “tragédia” para o projecto europeu, diz; e nesse capítulo, dou-lhe razão. A chanceler da Alemanha tem feito quase tantas borradas como o Zézito, o que é muito difícil, acrescente-se.
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