sexta-feira, 1 de julho de 2011

SABER ESCREVER

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A serra da Estrela, reforçada ao Norte pelo contraforte de Monte-Muro, fecha, com o Marão e o Gerês, uma muralha natural, onde os ventos do mar estacam. Apenas cortada pelos vales do Douro e do Tua — duas fendas — essa barreira, cujos picos sobem até 2.000 m, encerra e protege o Portugal do Norte, sendo a principal causa das chuvas abundantes e do clima criador do litoral de Além-Mondego.
O beirão, habitante da encosta ocidental onde o ar é mais húmido do que em Trás-os-Montes, as chuvas mais abundantes e a temperatura idêntica: onde o castanheiro colossal, o cedro, o carvalho e o pinheiro bravo põem na paisagem todos os tons e essa grandeza própria de árvores que vivem séculos: o beirão é menos vivo, mas mais robusto. Quem divagou por essas terras admirou decerto a estrutura hercúlea dos seus homens, cuja face, não luzindo com os brilhantes reflexos de vida interior, acusa todavia um pleno desenvolvimento da vida animal. Berço dos audazes bandidos, anacrónicos representantes de uma independência de outras idades, a Beira é o viveiro de musculosos trabalhadores, que vão todos os anos, pelo estio, lavrar as glebas do sul do Tejo, levemente vestidos com as bragas curtas de linho, descalços, com a camisola de lã agasalhando o tronco, o barrete frígio na cabeça, a manta e a enxada ao ombro.
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Oliveira Martins in "História de Portugal"
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