terça-feira, 12 de julho de 2011

'THE TIMES' SEGUNDO EÇA

.
Este nobre in-fólio diário, que inspira orgulho a todo o inglês sinceramente patriota e que aos olhos respeitosos do estrangeiro aparece como uma das mais fortes colunas da sociedade inglesa, como a própria consciência da Inglaterra posta em letra redonda; este augusto periódico que nunca, desde a sua fundação, citou o nome de um colega, nem jamais se baixou a uma controvérsia, pelas mesmas razões de inflexível etiqueta que vedariam a Luís XIV argumentar com Colbert; esta austera gazeta que preferiria despedaçar as suas magníficas máquinas a consentir que elas imprimissem um bon-mot, uma pilhéria, uma linda bagatela ou uma jovial anedota; este papel tão púdico que evita o nome de Zola, como uma indecência – o Times, enfim, o venerando Times, foi ultimamente vítima de uma dessas «partidas», como nós dizemos, «facécias em acção», como dizem os Americanos, que são ao mesmo tempo nefandas e patuscas, que nos abrasam a face de indignação e nos arrancam aos lábios um sorriso, que nos fazem vituperar publicamente o farsante e saborear secretamente a farsa, como se víssemos um rabo de papel pregado ao manto de el-rei, ou sobre os cabelos em caracóis da imagem do Senhor dos Passos enterrado um chapéu alto. [...]
.
Eça de Queirós in "Cartas de Inglaterra"
.

Sem comentários:

Enviar um comentário