É frequente falar da invenção da roda quando se quer referir
qualquer coisa nova e importante para a
sociedade como, por exemplo, a Internet.
Sei que o leitor está a franzir a testa e
a pensar que acabo de escrever uma
bacoquice —
a Internet terá himalaias de maior
importância que a roda. Não discuto porque não sei se há bitola para medir uma
coisa e outra de modo a poder comparar e tenho dúvidas. Ponto final neste aspecto que é secundário
para o discurso que preparei.
A
roda terá sido, e isso é certo, uma das maiores descobertas do homem quando começou
a pensar — esta é indiscutível. Mas porquê? Vou explicar como me apercebi disso
claramente pela primeira vez.
Corria
o Ano da Graça de 1967 AD quando O
Dolicocéfalo residia em Timor Leste, também Timor Loro Sae agora, e se apercebeu
que os timorenses cultivavam arroz e o vendiam em parte aos comerciantes
chineses, transportando-o em sacos empilhados no dorso de cavalinhos que
mais pareciam de brinquedo, em que o
cavaleiro — se os cavalgava — quase chegava com os pés ao chão. Se os sacos
eram muitos, o timorense tinha de fazer várias viagens de ida e volta para deslocar toda
mercadoria. Naturalmente, o resto está à
vista: com uma carroça e o mesmo cavalinho, carregava tudo duma só vez.
E
isto acontecia, apesar de todos os dias muitos timorenses verem veículos do exército
e dos chineses a transportar coisas, o mesmo que ver dezenas ou centenas de
rodas. No entanto, paradoxalmente, ainda não tinham "descoberto a
roda" que lhes pouparia muito trabalho e tempo, embora tempo fosse o que
mais tinham . É que descobrir a roda foi mais complicado do que se diz ao café.
Desde
logo foi preciso alguém lembrar-se que aquelas peças podiam servir para
deslocar, com muitíssima maior facilidade,
placas com carga em cima. E que, só com uma, a coisa não era fácil. E, para
usar duas, já exigia um nadinha de inspiração. E, mesmo com toda a inspiração,
havia problemas técnicos — de Engenharia
— difíceis de resolver, dos quais o primeiro era o eixo! É verdade: o EIXO! O
eixo foi quase tão importante como a roda, pois sem ele esta não servia para
nada. Não sei mesmo se não devíamos falar da "descoberta do eixo", em
vez de falar da "descoberta da roda".
Mas,
mesmo descontando os problemas da roda e do eixo, que não eram coisa pouca, havia
a maldita Engenharia a encravar tudo. E sabem qual era um dos primeiros e mais
impostantes? Era fazer o furo no local certo da roda, ou seja, no centro! Hoje
parece fácil, mas nem hoje é fácil — recorde-se o problema das rodas dos
automóveis que têm de ser periodicamente equilibradas (calibrar parece que é
acertar a pressão do ar no pneu). Quando a roda não está equilibrada, é como se
o furo do eixo não estivesse no centro da roda. Com a velocidade dos automóveis
actuais, isso é importante. Com a velocidade das carroças o problema era mais
tosco, mas os antigos faziam os furos em locais inesperados, embora bastasse
desenhar dois diâmetros para encontrar o centro.
E, depois, ainda sobrava o problema da
dimensão do furo, que não podia ser muito justo, nem demasiado grande, se a roda girasse num eixo fixo. Porque rodas solidárias com o eixo exigiam eixos
móveis, o que vinha complicar outra charada de Engenharia, qual era a de fazer
a ligação da geringonça roda/eixo àquilo que iria ser um carro com rodas!
Em resumo, a roda ficou demasiado bem vista no que foi a invenção do
carro com rodas. Na realidade, foi o princípio do problema e não a sua solução.
Por isso, em vez de descoberta da roda, é mais correcto falar da invenção da
carroça.
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