quinta-feira, 13 de junho de 2019

SE TEM PRESSA, PASSE À FRENTE

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 Jacinda Ardern, a maior arcada dentária do Hemisfério Sul
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[...] Uma das grandes causas do descontentamento que grassa em todas as democracias ocidentais reside, precisamente, no facto de as pessoas ouvirem que o PIB cresce, mas sentirem que a qualidade das suas vidas diminui. Pior ainda: à medida que o PIB cresce também tem aumentado a desigualdade e, com ela, a sensação de injustiça social e os focos de conflito.
A boa notícia é que há quem também se preocupe com isto e, mais importante, arrisque fazer diferente. É o caso de Jacinda Ardern (na imagem), a jovem primeira-ministra trabalhista da Nova Zelândia que, do outro lado do mundo, à frente de um Governo que também funciona como uma espécie de Geringonça (em coligação com um partido verde e um partido nacionalista), tenta inovar no modo de fazer política, não só com um discurso e uma postura baseados na solidariedade, mas também ao ser o primeiro Governo de uma democracia ocidental a apresentar um Orçamento em que se privilegia o bem-estar da população e não o crescimento económico.
Há razões para o fazer. Quando chegou ao Governo, há cerca de dois anos, Jacinda Ardern percebeu depressa que a frieza dos números da economia não era similar com muitos outros indicadores que encontrava na sociedade. Apesar de acumular, há vários anos, um crescimento forte do PIB, a Nova Zelândia registava, em contrapartida, algumas das maiores taxas de suicídio, de sem-abrigo, de violência familiar e de pobreza infantil do planeta. E a desigualdade social continuava a aumentar, demonstrando que o crescimento do PIB não era redistribuído por toda a população.
A conclusão a que Jacinda Ardern chegou devia ser um exemplo para o mundo: o crescimento do PIB não conduz, só por si, a um país melhor. Isso consegue-se, sim, através de outros indicadores, como os que promovem a qualidade de vida e o bem-estar dos cidadãos. No primeiro Orçamento de Bem-Estar que o seu Governo apresentou, na semana passada, no parlamento, foram criadas cinco áreas principais de actuação, fortemente financiadas, e cuja avaliação passa a ter a importância que, anteriormente, era dada ao PIB: saúde mental, pobreza infantil, promoção profissional dos povos indígenas, inovação digital e transição para uma economia sustentável.
Os críticos dizem que se trata de uma manobra de marketing, mas, mesmo que também o seja, continua a merecer os elogios, pois revela uma tentativa de fazer política de forma diferente. Com a preocupação centrada em quem mais merece: as pessoas.
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Rui Tavares Guedes in "Público"
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