[...] Em 1640, quiseram reaparecer as barbas.
O nosso D. Francisco Manuel não gostava da moda; nos Apólogos Dialogais motejou dos que a adoptaram para se darem ares de compostura e respeitabilidade.
D. João IV não gostava também.
Tosquiou-se, e ordenou que ninguém deixasse de entrar tosquiado no paço.
Desobedeceu-lhe o conde de Vila-Flor.
Acusaram-no; censurou-o o rei.
O conde respondeu que os seus cabelos lhe haviam nascido em Flandres e no Brasil entre a pólvora e a bala, e que não ousava pôr-lhe mão sacrílega.
Assim foi que o conde tornou notáveis as suas barbas.
Ainda assim, outras mais célebres há, por exemplo — as de Luís VII, de França.
Quando ele, que a História denominou o Moço, posto que as tribulações o devessem envelhecer muito cedo, lançou fogo aos 3.500 camponeses refugiados na igreja de Vitry, sentiu enlear-se-lhe no coração a víbora do remorso.
O bispo de Paris, Pedro Lombardo, para serenar as justas angústias da consciência real, impôs ao rei o sacrifício da própria barba.
Luiz VII achou leve a pena, e o bispo meteu tesouras á barba do príncipe, e deitou-lha por terra.
Tudo ia bem, porque o remorso havia desaparecido com a barba, mas a rainha D. Leonor de Guienna, que tinha antipatia pelas barbas rapadas, e por poucas mais coisas, encerrou-se na sua câmara sem querer falar ao rei, nem vê-lo sequer.
Boa rainha, e melhor esposa!
Houve grandes desgostos no paço.
O rei triste sem a esposa e as barbas; a rainha exasperada, sem as barbas do marido, o que era tudo, e sem o próprio marido, o que era pouco. . .
Tão pouco, que requereu e obteve divórcio.
Mas aquela amargura era grande: a rainha, para atordoar a saudade das barbas maritais, deu a mão de esposa a Henrique, duque de Normandia.
O duque, subindo ao trono de Inglaterra, declara guerra á França, por veleidade de Leonor, provavelmente para reaver as barbas de Luiz VII.
Muito sangue: barbas, nunca mais.
A tristeza da rainha!
Também os reis sofrem; que se aguentem. . . [...]
O nosso D. Francisco Manuel não gostava da moda; nos Apólogos Dialogais motejou dos que a adoptaram para se darem ares de compostura e respeitabilidade.
D. João IV não gostava também.
Tosquiou-se, e ordenou que ninguém deixasse de entrar tosquiado no paço.
Desobedeceu-lhe o conde de Vila-Flor.
Acusaram-no; censurou-o o rei.
O conde respondeu que os seus cabelos lhe haviam nascido em Flandres e no Brasil entre a pólvora e a bala, e que não ousava pôr-lhe mão sacrílega.
Assim foi que o conde tornou notáveis as suas barbas.
Ainda assim, outras mais célebres há, por exemplo — as de Luís VII, de França.
Quando ele, que a História denominou o Moço, posto que as tribulações o devessem envelhecer muito cedo, lançou fogo aos 3.500 camponeses refugiados na igreja de Vitry, sentiu enlear-se-lhe no coração a víbora do remorso.
O bispo de Paris, Pedro Lombardo, para serenar as justas angústias da consciência real, impôs ao rei o sacrifício da própria barba.
Luiz VII achou leve a pena, e o bispo meteu tesouras á barba do príncipe, e deitou-lha por terra.
Tudo ia bem, porque o remorso havia desaparecido com a barba, mas a rainha D. Leonor de Guienna, que tinha antipatia pelas barbas rapadas, e por poucas mais coisas, encerrou-se na sua câmara sem querer falar ao rei, nem vê-lo sequer.
Boa rainha, e melhor esposa!
Houve grandes desgostos no paço.
O rei triste sem a esposa e as barbas; a rainha exasperada, sem as barbas do marido, o que era tudo, e sem o próprio marido, o que era pouco. . .
Tão pouco, que requereu e obteve divórcio.
Mas aquela amargura era grande: a rainha, para atordoar a saudade das barbas maritais, deu a mão de esposa a Henrique, duque de Normandia.
O duque, subindo ao trono de Inglaterra, declara guerra á França, por veleidade de Leonor, provavelmente para reaver as barbas de Luiz VII.
Muito sangue: barbas, nunca mais.
A tristeza da rainha!
Também os reis sofrem; que se aguentem. . . [...]
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Alberto Pimentel in "Portugal de Cabeleira" (1875)
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