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[...] Está ainda por escrever uma grande e gloriosíssima história nacional. Não é apenas a averiguação minuciosa de todas as particularidades da fundação da monarquia. Não é a amplificação retórica dos recontros que no ocidente da península tiveram nossos maiores com os sectários do profeta; não é a narrativa das intrigas cortezãs, nem a lenda das guerras civis, nem mesmo a critica das instituições municipais, que tenderam a lançar no solo português as primeiras sementes da liberdade e a assegurar as imunidades populares contra a opressão dos nobres ou contra as invasões da monarquia absoluta. Estas investigações, posto que úteis e necessárias, resumem a história doméstica de um povo, ainda segregado em grande parte da civilização geral, ainda não activo e grande colaborador nos progressos da humanidade. São a monografia de um órgão, a análise de um tecido que pertence a um organismo considerável cujas funções e cuja evolução não pôde ser compreendida enquanto o historiador, erguendo-se a mais altas regiões, não estudar as relações da sua pátria com a civilização cristã, com a civilização universal.
A história de Portugal começa com as primeiras expedições e conquistas africanas. É desde então que esta orla Ocidental da península hispânica começa a inscrever o seu nome entre as nações cultas. Até então é uma província de Espanha, que por uma longa elaboração se emancipa da coroa castelhana. Dali por diante, é uma nação varonil, que justifica por actos de arrojada iniciativa a sua própria autonomia. Até ao principio das conquistas é uma família quase esquecida e ignorada pela Europa no seu último ocidente. Dali por diante a família, a tribu, ei-la tornada em povo e em nação. A província, que sacode o jugo da mãe-pátria, é já império, é já povo, é já eficaz e fecunda participação nos grandes acontecimentos que transformam a face do mundo e inauguram solenemente a moderna civilização.
Portugal é hoje nação, não porque conquistou aos árabes à ponta da sua lança estes territórios extremos da peninsula, não porque, por um acto de feliz insurreição, quebrou as cadeias que o prendiam à velha monarquia de Pelayo, não porque soube em guerras diuturnas firmar o pavilhão das quinas contra as invasões de seus vizinhos, mas porque fez desta bandeira gloriosa, não somente a insígnia de uma pátria, mas o emblema de uma nova civilização. [...]
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Latino Coelho in “Fernão de Magalhães”
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quarta-feira, 14 de julho de 2010
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