[...] O mestre de Aviz fora em rapaz manhoso, atrevido, audaz sim, mas nunca temerário. A temeridade só é concedida aos que na alma trazem alguma centelha divina. A castidade, essa flor gémea da cavalaria, que namorava o condestável e acabou pelo vencer com o cilício e a estamenha do seu santo claustro do Carmo, não seduzia o príncipe.
Nas suas cavalarias alentejanas, à volta de alguma monteria aos lobos, ou aos castelhanos, perdeu-se pelos olhos negros da filha de Mendo da Guada, em Veiros. Amou-a, seduziu-a, e trouxe-a para o convento de Santos, em Lisboa. O velho Mendo, de raiva, não cortou mais as barbas, donde lhe puseram por alcunha o Barbadão. «Não havereis já de acabar com essa melancolia? » perguntou-lhe uma vez a rir o mestre, passando em Veiros de cavalgada. «Sim: quando acabar convosco! » E arremeteu numa fúria. Um galão do cavalo salvou o mestre, que partiu cismando.
O Barbadão era o riso respeitoso das gentes de Veiros; mas, conformando-se afinal, veio à corte e recebeu as mercês do rei.
Das travessuras da mocidade trazia, pois, consigo D . João I um filho, duramente amamentado na escola dos acampamentos. A inferioridade relativa imposta pela bastardia, no seio de uma corte que depois timbrou na modéstia até ao exagero, azedou o carácter do conde de Barcelos, acendeu-lhe a cobiça, e, como a todos os bastardos, lançou-lhe na alma a semente de inimizade e despeito: todavia fecunda semente para os homens que ambicionam sobrelevar aos mais, não pela grandeza do próprio espirito, mas pela acção material, isto é, pelo império que exercem sobre os seus semelhantes, dominando-os, ou deslumbrando-os. [...]
Nas suas cavalarias alentejanas, à volta de alguma monteria aos lobos, ou aos castelhanos, perdeu-se pelos olhos negros da filha de Mendo da Guada, em Veiros. Amou-a, seduziu-a, e trouxe-a para o convento de Santos, em Lisboa. O velho Mendo, de raiva, não cortou mais as barbas, donde lhe puseram por alcunha o Barbadão. «Não havereis já de acabar com essa melancolia? » perguntou-lhe uma vez a rir o mestre, passando em Veiros de cavalgada. «Sim: quando acabar convosco! » E arremeteu numa fúria. Um galão do cavalo salvou o mestre, que partiu cismando.
O Barbadão era o riso respeitoso das gentes de Veiros; mas, conformando-se afinal, veio à corte e recebeu as mercês do rei.
Das travessuras da mocidade trazia, pois, consigo D . João I um filho, duramente amamentado na escola dos acampamentos. A inferioridade relativa imposta pela bastardia, no seio de uma corte que depois timbrou na modéstia até ao exagero, azedou o carácter do conde de Barcelos, acendeu-lhe a cobiça, e, como a todos os bastardos, lançou-lhe na alma a semente de inimizade e despeito: todavia fecunda semente para os homens que ambicionam sobrelevar aos mais, não pela grandeza do próprio espirito, mas pela acção material, isto é, pelo império que exercem sobre os seus semelhantes, dominando-os, ou deslumbrando-os. [...]
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Oliveira Martins in "Os filhos de D. João I"
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