sábado, 11 de fevereiro de 2012

O VIL METAL

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O dinheiro existe. É um facto. As pessoas gostam de o ter. Se possível, muito. Gostam tanto que são capazes de praticar o mal para lhe chegar. É tão popular que não há quem não saiba o que é,
embora às vezes o conheça mal e só de vista. Mas pouca gente se lembra de perguntar como apareceu o mafarrico, questão fundamental onde está ancorada toda a teoria da moderna finança.
O comércio será provavelmente a mais antiga actividade económica do Homo sapiens. Se eu tenho vinte ovos de codorniz e não tenho nenhuma galinha e ele tem quatro galinhas e nenhum ovo, podemos chegar a um acordo em que lhe dou dez ovos e ele me dá uma galinha. Tudo bem. Troco uma coisa de que não preciso e ele sim, por uma coisa que preciso e ele tem de mais. Mas isto é um exemplo escolhido “à maneira”, porque eu posso precisar da galinha e só ter coisas que não interessam a ele, ficando a transacção sem efeito. O resto está bem de ver: em cada comunidade foi-se gradualmente estabelecendo um ou dois bens padrão para fazer o comércio. Tinha de ser, naturalmente, um bem ou bens que toda a gente queria sempre, por exemplo peles de animal para fazer vestuário quente, ou ovinos para comer, ou  outra coisa qualquer do género. Podia mesmo haver mais do que uma moeda, porque de moeda se tratava já.
É claro que a moeda era diferente de tribo para tribo, ou de local para local – não havia ainda bancos centrais emissores de moeda, nem Zona Euro. As trocas entre zonas diferentes, com sistemas monetários também diferentes, faziam-se pacificamente porque o câmbio estava estabelecido pela experiência e uso.
Serve isto para dizer que o dinheiro não é fruto de nenhuma elaboração mental sofisticada, mas que surgiu na sociedade naturalmente ou, melhor dizendo, espontaneamente. Tudo correu bem até ao dia em que começou a elaboração mental, surgiram os bancos centrais e a moeda material foi substituída pela moeda convencional. Em tal dia ficou aberta a porta a essa coisa das finanças e, pior ainda, da engenharia financeira que nos consome. Enquanto no sistema tradicional as finanças estavam solidamente assentes na economia, hoje são apenas números escritos nos livros dos banqueiros. O dinheiro já foi riqueza. Hoje é apenas papel. E, cada vez mais, papel de embrulho.
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