Károçy Simonyi, no seu recente livro sobre a história da
Física, diz a páginas tantas esta coisa inspirada:
Deve ter-se o
cuidado de não sobrestimar a imagem das grandes personalidades que mudaram o
curso da Física: não esqueçamos que os seus oponentes eram seus iguais, se
falamos de craveira intelectual e, por vezes, até superiores em matérias de
ética e moral. Considerá-los meros contestatários sem sentido, ou de alguma
forma menos morais, é desvalorizar a importância da investigação científica.
.
O que Simonyi diz da Física aplica-se a todas
as ciências. E, na realidade, temos a tendência
inconsciente de imaginar conflitos entre personalidades que não podiam conflituar,
inclusivamente por impossibilidade cronológica, como Ptolomeu e Copérnico, ou Lamarck
e Darwin, ou Aristóteles e Galileu. Em boa verdade, devemos acreditar que se
fossem contemporâneos e pudessem conversar sobre as teorias de cada um, o fariam
de forma civilizada para chegar a acordo, mesmo que trabalhoso e demorado.
São assim, ou melhor, devem ser assim, os
verdadeiros homens de ciência, que praticam o rigor moral na correcta proporção do rigor
intelectual que usam na actividade científica. E quanto aos intelectuais não
científicos, verbi gratia os chamados
intelectuais literários? Como se passam as coisas? Não estou em boa posição
para me pronunciar, é verdade. Mas suspeito que a polémica, a briga, o insulto,
a calúnia até, fazem parte da natureza da actividade. Além de não vir daí
grande mal para a galáxia, reconheça-se que há insultos, mesmo calúnias, verdadeiras
peças de arte geniais.
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