quarta-feira, 11 de abril de 2012

CONSUMIDORES CHAVE

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Em 1969, o biólogo Robert Paine criou o conceito de espécies chave, mais precisamente usou pela primeira vez a expressão keystone species, dado que escrevia em inglês. Paine havia estudado a fauna de zonas entre marés, donde fazia a remoção, durante a maré baixa, das carnívoras estrelas do mar – Pisaster ochraceus. Uma das presas da estrela, os mexilhões, passaram a multiplicar-se incontrolavelmente, tomando conta do meio. Desapareciam as esponjas e, sem elas, não havia nudibrânquias. E as anémonas iam também porque comem o que as estrelas desalojam do solo. Chegava-se então à fase de mexilhões, mais mexilhões, e mais mexilhões. Isto é, não sendo a estrela um ser dominante no meio, mantinha o equilíbrio ambiental, seguindo-se a sua eliminação dos caos no habitat. Tal fenómeno foi posteriormente constatado noutros meios com outros seres, tornando-se um dos muitos modelos da Ecologia.
Falo nisto porque o mecanismo do fenómeno da espécie chave tem paralelo na Sociologia humana e é muito actual. Sabemos há algum tempo que o homem passou a ser factor de importância primordial no condicionamento da evolução biológica, como falávamos há dias, ao adquirir capacidade de poluir o meio, de esgotar, pela caça e captura, alguns tipos de exemplares de cada espécie, quando não toda a espécie, de forçar a mudança de hábitos alimentares a mamíferos e peixes e por aí fora. Eliminem-se as doenças e aumentem-se os recursos alimentares e ninguém vai parar o Homo sapiens – coitadas das outras criaturas!
Mas o referido nem é o aspecto mais importante do Homo sapiens/espécie chave. Tal aspecto é intra-humano e respeita a uma minoria da espécie versus resto da humanidade. Estamos a falar do que chamaremos consumidores chave, como os apreciadores de caviar, consumidores do pretensamente afrodisíaco pénis de tigre, das coxas de rã, das barbatanas de tubarão, blá, blá, blá. Minorias que dizimam alegremente espécies, com prejuízo do resto do planeta.
Actualmente, uma em cada quatro espécies de mamíferos está ameaçada de extinção por razões que têm a ver com alguns de nós. Desde o Século XVI já desapareceram 75 espécies às mãos de minorias – foram os CONSUMIDORES CHAVE! Mas há mais: há os recursos não vivos. 15% da população mundial, a viver nos Estados Unidos, Europa, Austrália e Japão, consomem 33% mais recursos, como os combustíveis fósseis e metais, e produzem  32 vezes mais poluição que os restantes 85% de seres humanos. Nos Estados Unidos, 80% da água é consumida pelos agricultores por má utilização. Se os israelitas tivessem necessidade de tal quantidade, morriam todos à fome. Os agricultores americanos são consumidores chave de água e é sobre eles que deve se feita pressão para racionalizar o consumo; não sobre o consumidor doméstico que gasta proporcionalmente uma ninharia.
A cruzada ambiental tem de empenhar-se nestes dois aspectos: proteger espécies chave, o que é incontestavelmente importante; mas muito mais importante no contexto actual é eliminar essa erva daninha que é o consumidor chave de que todos vestimos um pouco a pele.
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