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Há mulheres cujo ADN das
mitocôndrias (não interessa explicar o que são mitocôndrias) as torna mais susceptíveis a doenças genéticas, como a distrofia muscular e rebabá (não interessa
quais são e o que são as doenças). Tal característica mitocondrial existe
também, como é evidente, nos óvulos dessas
mulheres e, consequentemente, é transmitida aos filhos. Para prevenir a
transmissão, cientistas ingleses criaram uma técnica que repara o ADN dos
óvulos antes de serem fecundados pelo espermatozoide, substituindo nos
óvulos da mãe o seu ADN da mitocôndria por ADN de outra mulher sem o problema. Até aqui vai
tudo bem e ainda não aconteceu nada; mas os filhos dessas mulheres
não são filhos da mãe, mas filhos das mães. Ou seja, têm um pai—até ver!—e duas
mães.
Está na cara que os
problemas éticos levantados pela inovação, especialmente para muitas religiões,
contam-se na escala dos quiloproblemas, em que quilo é prefixo de mil. Os defensores
da prática dizem que é como uma transfusão de sangue no caso de doenças em que o doente carece de mais hemoglobina e mais nada. Os detractores dizem, e é
verdade, que não é a mesma coisa porque o sangue transfusional dura tempo
limitado no organismo e o ADN inoculado nos óvulos vai durar até à
consumação dos séculos, por ser transmitido sistematicamente às gerações
futuras. Há líderes religiosos que acham ser legítimo usar recursos da
inteligência humana como este porque são recursos dados por Deus e há os que excomungam a técnica.
E agora? Agora, não sei.
Se a lei que autoriza a prática for aprovada na Grã-Bretanha, no Outono de 2016
nascerão os primeiros ingleses filhos das mães. E, se eles se reproduzirem como
coelhos, para usar uma expressão papal, dentro de poucos anos a Albion será uma
terra de filhos das mães. Sem dúvida.
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