sábado, 14 de fevereiro de 2015

GANHAR NA SECRETARIA

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Segundo os jornais, Paula Lourenço é advogada e defende dois presos investigados na "Operação Marquês". Ainda de acordo com as mesmas fontes, terá usado a revista da Ordem dos Advogados para falar do processo, num texto com o esdrúxulo nome de "Vamos a Supor" (sic), publicado depois duma página a negro onde se lê Je ne suis pas Charlie, je suis avocat, declaração que não se entende por alma de quem é feita no contexto em análise. Mas tal não interessa agora, pois cada um escreve o que quer e como quer, sobretudo como sabe, e a mais não é obrigado—conseguiu atrair a atenção dos media, se era esse o objectivo.
E que diz Paula Lourenço? Diz que não há razão para investigar a actividade dos seus constituintes? Que eles não participaram em qualquer acto suspeito de aldrabice? Que há indícios de estarem a ser perseguidos por razões estranhas ao processo? Se diz, os jornais não referem isso. O que diz a advogada é que o Ministério Público "agiu sem mandado de detenção" e "com violência"; que "as próprias mulheres dos arguidos foram interrogadas sem qualquer fundamento legal durante várias horas"; que as buscas que continuaram na casa de um dos putativos detidos foram complementadas com "interrogatório" de várias horas ao seu cônjuge"; talvez que um dos magistrados, ou dos polícias, tenha pisado o rabo ao gato; que o oficial de diligências arrotou na cozinha dos arguidos e sabe-se lá que mais terão feito os trastes e eu desconheço por não ter acesso directo ao texto da Dr.ª Paula Lourenço.
A Dr.ª Paula Lourenço devia ter percebido já que os seus clientes estão mergulhados até aos colarinhos em suspeitas graves e é aí que deve  concentrar-se. Se quer mudar a opinião pública, como parece querer fazer com este escrito, é nisso que tem de empenhar-se e não em factos processuais que dizem muito pouco ao povão. Pode conseguir até uma vitória na secretaria e admito que a consiga. Mas olhe que, desse modo, os homens agora detidos saem da cadeia, mas saem bastante emporcalhados. Admito não ser coisa preocupante na circunstância mas, nesse caso, ficamos todos esclarecidos.
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