Hoje peguei num livro com correspondência de
Antero de Quental e li algumas cartas que não conhecia (para ser franco, de
Quental até não conhecia nenhuma).
Uma delas, para Alberto Machado, açoriano como
Quental, jurista, escritor, político e outras coisas mais, que se deduz lhe
pedira uma fotografia ou gravura para incluir num texto. Quental responde
assim:
Meu Caro Alberto,
Só hoje recebi a tua boa cartinha, que me parece trazer a data de 3. Aí
te envio um exemplar da única boa fotografia que tenho. Foi tirada há já três anos,
mas d'então para cá tenho mudado pouquíssimo. A gravura a que te referes, é
cópia de um retrato que me tirou o ano passado, quando aí estive, o Columbano
Bordalo Pinheiro, e que está muito bom como pintura, mas idealizado, como todas
as composições desse pintor neo-velasquiano, no sentido do fantástico e
tenebroso. Mas a tal gravura levou então esses toques sombrios até às
proporções do funambulesco!
Preferia não andar gravado nos papeis, Mas, uma vez que não posso evitar,
e sendo do teu gosto estampar-me no "Occidente", aí vai ao menos uma efígie autêntica.
Adeus, que escrevo à pressa por causa da hora do correio.
.
Um abraço do teu
.
velho amigo
.
Antero de Quental
.
Deduzo que havia um retrato do "neo-velasquiano"
Columbano, retrato que seria "idealizado no sentido do fantástico e
tenebroso", que Quental detestava; e uma gravura, talvez sugerida por Alberto
Teles, que tinha levado esses toques sombrios (toques sombrios do retrato do
Columbano?) "até às proporções do funambulesco". E, para substituir um e outra, Quental enviava uma "efígie autêntica" (outra fotografia, talvez à la minute, digo eu).
Serve esta longa conversa para falar de
duas coisas. A primeira é a preocupação de Antero de Quental com a sua imagem no papel a publicar — queria
parecer bem, bonito, bem apresentado, talvez mais bem vestido que Sócrates, conhecido também por Zezito.
A segunda, e tenho algum pudor em dizer
isto, é a forma pouco clara como descreve o problema — de lana-caprina — da
escolha do/da retrato/gravura/efígie.
Com a admiração que tenho por Quental, esperava melhor, mesmo numa carta para um amigo, escrita à pressa "por causa da hora do correio".
Com a admiração que tenho por Quental, esperava melhor, mesmo numa carta para um amigo, escrita à pressa "por causa da hora do correio".
.
Sem comentários:
Enviar um comentário