Vital Moreira, que não faz o meu género e por
isso sou insuspeito no que vou dizer, escreve no "SOL" o seguinte: “Quanto
ao seu conteúdo, a polémica mensagem de Dijsselbloem não traz nada de novo e é
incontroversa”. Até aqui, acho que Vital Moreira está a falar bem.
E acrescenta a seguir: [...] “a devida
solidariedade financeira da União Europeia em relação aos Estados-membros em
dificuldades orçamentais implica responsabilidade financeira dos beneficiários
e não se pode gastar irresponsavelmente à conta do endividamento público e
depois ir pedir solidariedade aos contribuintes dos outros países”.
Continuo a abanar as orelhas em sinal de aprovação.
E mais à frente: “a metáfora por ele utilizada
não podia ser mais despropositada, para além do mau gosto. Estúpida, por isso”.
Continuo a abanar as orelhas, embora seja aqui que não concordo totalmente com
Moreira.
A metáfora utilizada por Dijsselbloem
— e agora sou eu que digo — pior que estúpida, é ingénua e aí é que está o mal.
Dijsselbloem, se queria falar do que
falou, devia chamar os bois pelos nomes e não vir com essa ingenuidade
provinciana dos "copos e mulheres de má fama" (a má fama subentendo
eu).
Dijsselbloem podia falar nas despesas
sumptuárias do Estado Português, por exemplo, nas mordomias dos políticos sem
excepção de nenhum partido, mesmo daqueles que passam a vida a apedrejar a
maioria dos compatriotas; da realização de obras de fachada como meio de
promoção política — veja-se o que se passa nesta época pré-eleitoral por todos
os concelhos e freguesias —; da realização de obras para cobrar
comissões ou luvas; da concessão de benesses despropositadas a torto e a
direito — sobretudo a torto — pelas mesmas razões; da administração ruinosa da
Fazenda Pública, com recurso irracional ao crédito, gerando uma dívida que
ninguém sabe como será paga; da corrupção que todos os dias faz cabeçalhos nos media, seja de políticos, seja de
administradores de empresas públicas e privadas; da pouca vergonha que é o nepotismo diariamente noticiado; e rebabá, rebabá, rebabá — fico por aqui porque não é
preciso gastar mais bits.
Dijsselbloem não deve ser mau tipo, mas é um
parolo. Oriundo duma família puritana holandesa, é mais provinciano que o
Senhor Messias de Quadrazais — mas muito mais!... — rima e é verdade. O Senhor
Messias tinha o Sétimo Ano de Praia.
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