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Provavelmente, já ninguém sabe, ou se lembra, o que é um Puf-Paf, também chamado Pop-Pop. O Puf-Paf era, e ainda deve ser, um barquinho brinquedo de propulsão a vapor, com um motor muito simples e engenhoso.
Era pouco maior que uma caixa de óculos, ou equivalente, e tinha uma caldeira pequena ligada a um tubo de escape que terminava na ré, abaixo da linha de água. Tal caldeira tinha fundo metálico muito fino, flexível e côncavo, fazendo saliência para dentro — onde, naturalmente era convexo — senhor de La Palice dixit.
Depois de abastecer a geringonça* propulsora com água, esta era aquecida com uma pequena vela acesa colocada por baixo. À medida que a água ia aquecendo e fazendo vapor, o fundo convexo por dentro era empurrado para baixo, ao mesmo tempo que a água no tubo de escape era ejectada pela ré do barco, movendo-o para a frente — era quase um motor a jacto, muito antes destes serem usados nos aviões militares.
Com a saída do vapor, a pressão no interior da caldeira baixava a níveis inferiores à pressão atmosférica e à pressão da água que rodeava o barquinho, tornando-se negativa. Então, ao mesmo tempo que o fundo da caldeira voltava à sua posição inicial — côncava para baixo e convexa para cima — também entrava água fria pelo tubo de escape, água que voltava a ser aquecida, a fazer vapor, a empurrar o fundo da caldeira para baixo a ejectar vapor pelo escape, blá, blá, blá (ver figura à esquerda).
Quando o fundo metálico saltava para baixo, fazia um audível "puf", ou "pop"; e quando voltava à posição normal, fazia "paf", ou "pop". Daí que o brinquedo fosse conhecido por Puf-Paf, ou Pop-Pop.
O aspecto dos Puf-Paf da minha juventude já era mais moderno que o aspecto do cacilheiro que se vê na fotografia. Aliás, só aparece hoje aqui n' "O Dolicicéfalo" porque a fotografia tem a história de ter sido feita sentado à mesa do almoço, a mastigar uma iguaria e através do vidro da janela.
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* Nunca a palavra "geringonça" teve tanto uso — é obrigatória nova entrada na próxima edição do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa: talvez "tautócrono imiscível". Como o Presidente, Artur Anselmo, foi meu colega no liceu e faz o favor de ser meu amigo, vou mandar-lhe um lembrete.
Mas já que estamos a falar de geringonça, lembro que a palavra tem história muito antiga — já vem duma ópera de António José da Silva, o judeu, como se conta no vídeo a seguir. As palavras são como as cerejas. Começámos com o Puf-Paf e já vamos em António José da Silva. Veja que tem graça.
* Nunca a palavra "geringonça" teve tanto uso — é obrigatória nova entrada na próxima edição do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa: talvez "tautócrono imiscível". Como o Presidente, Artur Anselmo, foi meu colega no liceu e faz o favor de ser meu amigo, vou mandar-lhe um lembrete.
Mas já que estamos a falar de geringonça, lembro que a palavra tem história muito antiga — já vem duma ópera de António José da Silva, o judeu, como se conta no vídeo a seguir. As palavras são como as cerejas. Começámos com o Puf-Paf e já vamos em António José da Silva. Veja que tem graça.
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