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SANTIAGO, ILHAS DE CABO VERDE, 16 de Janeiro de 1832 – Vistas a partir do mar as imediações de Porto da Praia apresentam um aspecto desolado. O fogo vulcânico das idades passadas e o calor tórrido de um sol tropical tornaram o solo estéril e, na maioria dos lugares, não propício para vegetação. O campo ergue-se em sucessivos degraus de terra plana entremeados de alguns montes cónicos e o horizonte é limitado por uma cadeia irregular de montanhas mais altas. Tal como observado através da atmosfera nublada deste clima, o cenário é de grande interesse; se, de facto, uma pessoa acabada de chegar do mar, e que pela primeira vez se passeia por um pequeno bosque de coqueiros, pode ser juiz de alguma coisa além da sua própria felicidade. De um modo geral a ilha seria considerada como muito pouco interessante; mas para alguém acostumado apenas à paisagem inglesa, o prospecto novo de uma terra completamente estéril possui grandeza que maior presença de vegetação destruiria. Dificilmente se pode descobrir a verdura de uma única folha sobre a vasta extensão das planícies de lava; no entanto, rebanhos de cabras, junto com algumas vacas, lá se arranjam para subsistir. Chove muito raramente, mas durante uma pequena parte do ano caem chuvas torrenciais, e depois delas desponta imediatamente uma ligeira vegetação em cada fenda. Murcha depressa, mas é a partir de forragem tão naturalmente formada que vivem os animais. No momenta presente já há um ano que não chove. Largos e de fundo direito, muitos dos vales servem apenas durante alguns dias aquando da estação das chuvas como leito para as águas, e estão cobertos por matagais de arbustos sem folhas. Poucas criaturas vivas os habitam. O pássaro mais comum é o pica-peixe (Dacelo jagoensis), que mansamente pousa nos ramos da planta do rícino e daí salta sobre os gafanhotos e lagartos. Tem cores brilhantes, mas não tão belas quanto as da espécie europeia; também existe uma grande diferença no seu voo, comportamento, e local de habitação – que em geral é nos vales mais secos.
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In "Diário de Charles Darwin", naturalista do "Beagle"
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