segunda-feira, 18 de junho de 2012

O VIÉS DA ASNEIRA

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Se um taco e uma bola de baseball custam 1 dólar e 10 cêntimos, e se o taco custa mais um dólar que a bola, quanto custa a bola? Se disse 10 cêntimos, lamento dizer-lhe mas está errado. Na realidade o taco custa 1 dólar e 5 cêntimos e a bola 5 cêntimos.
Estúpido? Não; e já direi porquê.
Se num lago um aglomerado de folhas de árvore duplica a sua superfície em cada dia, considerando que o lago estará completamente coberto de folhas em 48 dias, quanto tempo é preciso para cobrir só metade do lago? Na realidade, não são 24 dias, mas 47.
Este tipo de perguntas fazia Daniel Kahneman, Prémio Nobel e professor de Psicologia em Princeton a grupos diversos de cidadãos. Kahneman é das pessoas que mais contribuíram para perceber como funciona o raciocínio do homem e, provavelmente, também da mulher, com as minhas desculpas às mulheres pela graça de mau gosto. E o mais extraordinário é que nesses testes,  a melhores  inteligências, avaliadas pelos métodos clássicos, corresponde maior tendência para a asneira.  E, também, graus superiores de educação não servem de muito aos interrogados: 50% dos alunos de Harvard, Princeton e do Massachusetts Institute of Technology responderam erradamente à pergunta do taco e da bola.
Postas perante estas questões, as pessoas têm tendência para não raciocinar com um mínimo de profundidade e seguir atalhos mentais que conduzem ao erro; de certa forma expressão da lei do menor esforço. E quanto melhor a inteligência maior a propensão para confiar nela e não reflectir. É um viés mental, mais precisamente. Viés com raiz no inconsciente e, por isso, a escapar à inteligência, o que explica o facto de se verificar mesmo em pessoas avisadas; no próprio  Kahneman, segundo  confessa.
Tal viés é susceptível de produzir enormes fiascos na ciência. Mas, nessa circunstância, as consequências raramente são graves porque o método científico, com a vigilância crítica permanente dos pares investigadores, é auto-regulador e corrector. O real problema põe-se no dia a dia do cidadão comum, empurrado pelo dito viés para a irracionalidade, para a decisão errada, para a opção absurda. Qual o seu peso no destino dos povos é grandeza desconhecida, mas é óbvio que tem tido papel determinante em muitos episódios trágicos da História.
Para fechar, conto um episódio ocorrido com Kahneman e um filósofo a quem explicava a sua teoria: o filósofo começou a ouvir Kahneman mas, em dado momento, interrompeu-o, disse-lhe que não estava interessado na Psicologia da Estupidez e retirou-se de imediato. A vida científica de Kahneman não tem sido fácil.
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2 comentários:

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