[...] Os que clamam agora por um governo europeu - mais um upgrade neste caso vindo dos que ficaram na situação de estender a mão à Alemanha - têm, a seu favor, pelo menos algum realismo, visto que estão a propor o que já há. Fazem-no no desespero de serem deixados apenas aos inúteis mecanismos do Tratado de Lisboa, que não os protegem se ninguém estiver disposto a pagar a factura dos seus erros e incompetências e de viverem há tempo de mais acima das suas posses. Aflitos com o facto de terem que pagar sozinhos os excessos que cometeram, agarram-se agora a um governo europeu que pensam lhes dará protecção in extremis e lhes permitirá manter os vícios, como uma província pobre do império a que se permite viver mediocremente do orçamento da capital e do Norte industrial.Só que, a haver um governo europeu, ele será alemão e parece pouco provável que a Alemanha continue disposta a ter o papel de pagar eternas reparações de guerra sob forma de contribuições líquidas para o orçamento comunitário, mais a pagar as Grécias que existem na Europa, e a arrastar com custos para a sua economia e para o bem-estar material dos seus concidadãos, com origem numa periferia que tudo recebeu e que quase tudo desaproveitou. Teve a sua oportunidade e atirou-a às malvas do consumo e da megalomania dos governos. Não se reformou, não se reestruturou, e abandonou qualquer ideia de esforço a favor do consumo imediato. De europeu só teve expectativas elevadas de consumo, nenhuma exigência de rigor e de trabalho. Isso ficou para os boches comedores de salsichas e que se levantam às 6 da manhã. É por isso que os euro-entusiastas clamam contra a "traição de Angela Merkel", contra a sua "mesquinhez" e "falta de arrojo europeu", como se a riqueza alemã fosse o poço sem fundo da falência das várias Grécias que por aí andam. [...]
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Pacheco Pereira in "Abrupto"
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