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CONTO
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Que grande franciscanada
Vai fazer com frei Bento
Frei João e frei Monteiro
P'ra longe do convento?
Bom alforge levam cheio,
Recheado de finório
Presunto, e grosso paio,
Furtados no refeitório.
Frei Bento vai ajoujado
Com tremebunda borracha;
Chega o rancho a uma tasca
Para a horta lá se encaixa.
Frei João despindo o hábito
E de manga arregaçada
Tempra e mexe aforçurado
Um alguidar de salada.
Frei Monteiro pisca o olho
À moça, que é rapariga,
E frei Bento sem c'rimónia
Um chouriço já mastiga.
Voam paios e presuntos
Tal é a gula e a gana,
Torna-se logo a borracha
Em famosa carraspana.
Depois alegres cantando
Lá se vão abarrotados
Ao convento recolhendo
Pelos muros encostados.
Chama a campa ao refeitório,
Pois são horas de cear,
A fradalhada aparece
Mas não acha que trincar.
--«Que pouca vergonha é esta?»
Grita logo frei Martinho,
«Que é dos nossos grossos paios,
O presunto e mais o vinho?»
--«Fomos roubados», responde
O padre refeitoreiro,
«Tudo lambeu frei João
Com frei Bento e frei Monteiro!»
--«Ah! bêbedos! ah glutões!
Ah! cambada de marotos!...»
Berra o padre provincial
Dando cinco ou seis arrotos.
--«Hão-de caro pagá-lo!»
Brada em peso o convento,
«Hão-de levar bons açoites
Frei Monteiro e frei Bento;
«E tambem Dom frei João
Há-de levá-lo o diabo!
Tudo quanto nos comeram
Há-de-lhes saír do rabo!»
Todos logo bem armados
De sandálias gigantescas
Tratam de pôr á vela
As seis nádegas fradescas.
E depois sem mais demora
Pé atrás e furibundos
Tocam todas as matinas
Nos traseiros rubicundos.
Eis no meio da batalha,
Quando tudo em confusão
'Stá batendo a bom bater,
Dá um peido frei João!
Mas não é peido de medo
É um peido tremebundo,
Peido de frade, que é
O maior que há neste mundo.
Se o famoso Garibaldi
Um tiro destes lh'escapa
Lá se vão com mil diabos
Os exércitos do Papa.
Foge tudo com o estoiro
E ainda mais com o cheiro,
Aqueles que mais gritaram
São os que fogem primeiro.
Frei João põe em derrota
O resto da fradalhada,
Dizendo-lhe que ainda tem
A peça bem carregada...
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Anónimo in “Album chulo-gaiato ou collecção de receitas para fazer rir” (BRUXELLES, TYP. BRUYLANT-CRISTOPHE ET Cie), 1862
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sexta-feira, 11 de junho de 2010
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