Martha Gill é uma jornalista especializada em Neurociência e escreve hoje um artigo no “Daily Telegraph"―a respeito da morte de Tony Benn―sobre as razões porque é norma não dizer mal dos mortos, particularmente dos falecidos de fresca data. A prosa é longa e não diz muito, tendo retido duas ideias.
A primeira é a de
que a morte é habitualmente acompanhada de eventos sociais com formas várias,
religiosas ou não, em circunstâncias em que não é bem visto emitir opiniões
desagradáveis. Por exemplo, num casamento ninguém diz: "nunca gostei da noiva, e
ainda menos do noivo, e não vou mudar agora de opinião só porque estão casados;
mas ergo a minha taça para fazer um brinde―cheers!" Ou num baptizado: "o bebé é
giro, mas o que estamos a esquecer, no meio deste entusiasmo, é que é
exactamente igual aos outros bebés; um bebé padrão―outra perspectiva, por
favor".
Mas Martha Gill
acaba por admitir o que parece correcto e é a de o maldizer pós-morte ser um
acto de cobardia de quem não teve coragem de o fazer durante a vida do
finado, especialmente se este tinha poder.
Mas a parte melhor
do artigo reside nos comentários, que são muitos e vale a pena ler. Por
exemplo que, se estamos em campanha para o falecido ser bem recebido no outro
mundo, não se deve dizer ou fazer nada para condicionar negativamente o seu
julgamento. Ou que, se não existir um médium, é melhor ficar calado até chegar a
oportunidade de lhe dizer as coisas face a face. Ou ainda que, se não se leva o
finado pacificamente ao túmulo, ele pode voltar para trás e não nos vemos livres dele.
É uma bela peça de
humor britânico onde, por cada Conselheiro Acácio, há cinco ou dez janotas com
piada.
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