Não costumo alongar-me nas citações. E certamente não costumo alongar-me nas citações de José Sócrates. Mas corre pelos blogues liberais (não são muitos) um pequeno e esclarecedor vídeo extraído do debate entre o ex-secretário-geral do PS e o ex-chefe do Bloco de Esquerda durante a campanha eleitoral de 2011. O debate é moderado por Clara de Sousa. A certa altura, o eng. Sócrates propõe-se esmiuçar um tema hoje relativamente em voga:
"- Vamos ao essencial da sua proposta: o que é que
Francisco Louçã propõe para resolvermos o problema? Diz assim: vamos
reestruturar a dívida. O que é que significa reestruturar a dívida?
Reestruturar a dívida é um termo técnico. Isto significa não pagar parte da
nossa dívida.
- Isso seria trágico para Portugal, eng. José Sócrates?
- Absolutamente trágico!
- Quais eram as
consequências para o País?
- Vou responder. Isso significa calote aos credores. Isso
significaria, em primeiro lugar, Portugal passar imediatamente a fazer parte do
lote de países que não cumprem, da lista negra. Isso significaria desde logo o
colapso do sistema financeiro, porque nenhum dos nossos bancos, nenhuma das
nossas grandes empresas se poderia, digamos assim, financiar. E isso teria
consequências gravíssimas na nossa economia, nas empresas e nos trabalhadores.
Pagaríamos isso com desemprego, com falências e com miséria, Francisco Louçã. É
por isso que essa proposta é absolutamente irresponsável."
Por irresponsável que também tenha sido a governação do
eng. Sócrates, houve momentos em que, por comparação com os delírios dos
partidos comunistas, o homem passava por um estadista sensato (principalmente
se esquecermos que a dívida em questão fora, em larga medida, criada por ele).
Este é um desses momentos, por um lado abonatório para o antigo
primeiro-ministro, por outro desanimador para Portugal, cujas alegadas elites,
alegadamente de todas as cores políticas, exigem agora de modo oficioso a
reestruturação da dívida, leia-se o tal calote, o tal colapso e a tal miséria.
Ou seja, à esquerda, à direita e ao centro, hoje existe
pior do que o eng. Sócrates, incluindo o próprio, que um destes dias se
declarou de acordo com o célebre manifesto dos 70, logo em desacordo consigo
após meros 3 anos. Por cá, o pessimismo é uma aposta segura.
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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