Entre os Séculos
XI e XIV, a sociedade rapanui da Ilha de Páscoa viveu dias de glória.
Depois, por variadas razões, entre as quais a destruição da floresta para
erguer e manter os famosos monolitos chamados
moais, a agricultura entrou em decadência e a sociedade também. No Século XVIII, bateu no fundo.
Os rapanuis são o ícone da má prática ambiental,
económica e social. As famosas e enormes estátuas eram feitas com fervor só
comparável à produção industrial moderna: cada família queria uma, se possível
maior que as outras, e assim foram erigidas mais de 800. Falo nisto porque o
mundo é hoje uma enorme ampliação da sociedade rapanui—a economia actual, e o
seu indispensável crescimento, dependem da compra de muitas coisas quase inúteis
e rapidamente deitadas fora. Tal e qual.
De acordo com estudos recentes, a biosfera leva um ano a
produzir o que a população do mundo consome em oito meses—situação insustentável,
com tendência para piorar. São as necessidades básicas que impõem tal situação?
De forma alguma! É só saloiada!
Quantos têm vergonha de usar um telemóvel que não
consegue fazer umas tantas coisas que não servem para nada? Quantos, dos que
têm o último modelo de comunicação móvel, não o trocam por outro mais moderno
que também limpa as catotas do nariz, ou a cera dos ouvidos, mesmo que tenham
de se endividar? Uma lástima!
Em Edimburgo, perto do museu da cidade, existe uma loja
com o sugestivo nome de "Remade in Edinburgh". Ali, tudo é
consertado, transformado, polido e comercializado, desde gravatas a
computadores. O lema é "Reparar computadores cria 100 vezes mais postos de
trabalho que reciclá-los". E se levar lá um aparelho, eles ensinam-no a
repará-lo.
O psicólogo britânico Michael Eysenck chama ao consumismo
parolo em que vivemos a "mó do hedonismo", que alimenta a esperança da
satisfação da próxima compra ser mais duradoura que a última. Mas acrescenta
ser o oposto ainda mais provável.
Felizmente, ainda há coisas louváveis, de uma das quais
falava ontem, ou anteontem, Miguel Esteves Cardoso: os livros em segunda mão
que a Amazon vende. Uma iniciativa de se lhe tirar o chapéu em plena era da
parolice. Infelizmente, os portes do correio para Portugal são incomportáveis.
Vale o Kindle, valha-nos isso, mas sai mais caro.
Temos que nos habituar a viver de forma mais racional e
criar neste torrão à beira-mar plantado qualquer coisa como um "Remade in
Portugal". Isso mesmo!
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