Em
1970, depois de Jigme Singye
Wangchuck ser coroado monarca absoluto do Butão, um dos países mais pobres do
mundo, interrogado pelos jornalistas sobre o que pensava fazer para aumentar o
produto interno bruto, o rei declarou sem hesitar que estava mais interessado
em aumentar a felicidade interna bruta.
A felicidade é matéria complicada que os economistas não entendem
porque a estudam a partir dos dados que têm, manifestamente desadequados. São
como o bêbado que perde as chaves no trajecto do bar para casa e só as procura
debaixo do candeeiro da porta porque é aí que tem luz.
Tostoi dizia que as famílias felizes são todas iguais, provável
razão porque aparecem tão pouco nos romances, em contraste com as que sofrem
grandes ou pequenos dramas. Felicidade não é matéria que prenda a atenção.
Voltando ao rei do Butão e ao produto interno bruto, é
verdade que a prosperidade económica aumenta a sensação de felicidade. Mas a
relação tem limites porque não corre com proporcionalidade e em paralelo. Naturalmente, o
estado de repleção da barriga é fundamental e sine qua non. Mas barriga muito
cheia não é sinónimo de muita felicidade. Por essa via, a felicidade só cresce
até um limite: depois estabiliza. Estudos feitos no mundo desenvolvido mostram
que a felicidade hoje não é maior que em 1960, não obstante as condições
materiais da vida terem melhorado sempre até agora. Os países escandinavos
estão aí para o demonstrar.
O estado não pode promover a felicidade—está mais que
demonstrado. Há nesta matéria um aspecto subtil: o que o estado pode fazer é
diminuir, ou atenuar, as causas da infelicidade; no fundo, a filosofia da
social-democracia. O resto fica por conta dos cidadãos e das suas organizações,
sejam religiosas, cívicas, desportivas, profissionais, rebabá. O rei do Butão
não estava completamente fora da razão—para ser feliz não é necessário ser rico; é preciso é ser do Benfica.
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