O holismo, conceito que enforma a doutrina de que o
todo é diferente da soma das partes—quase sempre maior—já vem de longe: de Aristóteles. Se, com areia da praia e alguma
água do mar, construirmos um castelo, este tem, além dos constituintes referidos,
o conteúdo estético. É totalmente diferente de outro conjunto numericamente igual
de grãos de areia e água dentro de um balde. O avião é mais que o conjunto das
suas peças e um aglomerado de átomos de carbono, hidrogénio, oxigénio, azoto,
enxofre, fósforo, ferro e por aí fora, pode ser só isso, ou vida—depende do modo
como se organizam as coisas. Os átomos de carbono são iguais, mas podem formar grafite,
ou diamante. Em suma, rebabá.
A organização colectiva, resultado das conexões entre as partes, é o segredo e depende também do número destas.
Dez pessoas têm o máximo de conexões entre elas de 10 x 9/2, igual a 45;
mas se aumentarmos o número de pessoas para mil—100 vezes mais—o máximo de conexões passa
a 1.000 x 999/2, igual a 499.500. Enquanto o número de pessoas aumenta 100 vezes
(10 para 1.000), as conexões possíveis crescem mais que 10.000 vezes.
Isto tem implicações complicadíssimas em ciência. Na Neurociência,
o número de neurónios em jogo, por exemplo, muda o cenário funcional do
todo; e o modo como se interrelacionam ainda muda mais. Desmontar a matéria em
átomos, estes em protões, neutrões e electrões, e depois em quarks, gluões, blá, blá, blá, é
naturalmente útil; tal como conhecer as células dos seres vivos, os organelos
destas, as proteínas, o ADN, etc. Mas nada nos diz como as células se organizam
colectivamente para manter a homeostasia do organismo, tal como os quarks,
bosões e toda a cangalhada que assegura a estabilidade das propriedades da
matéria funciona. Depois de anos e anos a desbravar e dissecar matéria morta e
matéria viva, a ciência vê-se agora confrontada com himalaias de informação para
arquivar em dossiês organizados. Não está fácil o problema.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário