Ross Andersen é um dos editores do "Aeon Magazine"
e escreve sobre matéria científica e Filosofia em várias publicações,
incluindo o "The Economist". No site da BBC, tem uma peça intitulada
"Inferno na Terra" que começa assim:
Mesmo nos meus momento mais religiosos, nunca tomei a
ideia do Inferno muito a sério. A actual
teologia Cristã pede-nos para acreditar que um ser todo poderoso fará o que nenhum pai humano faria: criar dezenas
de milhares de milhões de frágeis criaturas, colocar algumas em ambiente de
amor transcendente e mandar as outras para uma eternidade de tormento
insuportável.. Tal versão sempre me pareceu uma relíquia intelectual, uma
sobrevivência da barbárie, ou pior, o mito para impor uma crença. [...]
Não comento o trecho de Andersen, mas cito-o porque serve
de introdução a uma entrevista com Rebecca Roache, filósofa e
académica da Universidade de Oxford, que se tem debruçado sobre as penas
judiciais—na componente castigo—e sobre
o que pode mudar nessas penas com as novas tecnologias.
Diz a páginas tantas que há muitos prisioneiros
idosos, condenados a penas perpétuas, a utilizar recursos avançados de manutenção
de vida, por exemplo pacemakers sofisticados, além de terapêuticas complexas
para tratar doenças graves. E avança depois a seguinte questão: se o avanço
tecnológico conseguir algum dia prolongar a vida para durações superiores a
centenas de anos, é legítimo manter as penas perpétuas?
Muita gente ilustre da Filosofia tem dúvidas se a
identidade da personalidade se mantém tanto tempo, circunstância em que pode
um corpo ser habitado por uma sucessão de pessoas e a dado momento estamos a
punir a pessoa por um crime cometido por outra. Assim, o quase Inferno
neste mundo constituirá circunstância inaceitável. Dá que pensar isto e
tem muitas implicações. Quem tiver possibilidade de o fazer, pode—e deve, acho eu—ler a
entrevista completa aqui.
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