Já falámos em tempos do arroz dourado, alimento
geneticamente modificado de modo a que os grãos tenham beta-caroteno, precursor
da vitamina A. É sabido que o arroz é base da alimentação de milhares de
milhões de pessoas na África e na Ásia e que ocorrem milhões de casos de
cegueira e morte por doenças infecto-contagiosoas nesses continentes por falta
daquela vitamina. A cruzada contra os alimentos modificados geneticamente
tem-se batido com unhas e dentes contra o arroz dourado sem que lhe pesem na
consciência as vítimas duma alimentação carente em vitamina A. O princípio é
mais importante que as vítimas neste caso.
Falo nisto porque recentemente uma importante revista de
nutrição americana—American Journal of
Clinical Nutrition—recusou a publicação de um artigo de autores chineses onde
se documenta que o arroz dourado tem a mesma eficácia que o beta-caroteno na
prevenção da cegueira e de doenças transmissíveis.
E porque foi recusado o artigo? Porque foi mal conduzido?
Não foi. Porque contém conclusões não comprovadas cientificamente? Não contém. Então
porquê? Porque foi realizado sem observar as normas americanas para a
realização deste tipo de estudos, nomeadamente sem registar correctamente o
consentimento dos pais das crianças envolvidas, embora eles o tenham dado.
Se isto não constitui manobra burocrática de mau gosto, e
sobretudo de má fé, vou ali e já venho. O que é preciso é barrar o arroz dourado
de qualquer forma, nem que seja à porrada. Para gente primária assim, abrir a porta
ao dito arroz é o perigo. Nunca se sabe o que vem a seguir—talvez favas capazes
de lhes dar filhos com quatro patas. Não me admirava.
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