segunda-feira, 10 de agosto de 2015

COMEÇAR DE NOVO

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 O Editorial do "Público" de ontem tratava da dívida—não da pública ou das empresas, mas da pessoal e das famílias em Portugal e dizia muito acertadamente o seguinte:

[...] Antes da crise, os apelos ao consumo e ao endividamento espalharam-se como fogo na palha. Muitos milhares de pessoas, atraídas por tais apelos, compraram o que na altura pensavam que poderiam pagar. Mas, com o desemprego ou a diminuição de outros rendimentos, isso tornou-se impossível. E os credores recorreram a empresas de cobrança, a advogados, a tribunais, e dívidas que eram relativamente baixas engordaram como bolas de neve, num efeito sem retorno. Para milhares de portugueses este pesadelo mantém-se ainda hoje, com contas bancárias congeladas, salários parcialmente absorvidos em prestações de dívidas. Um pesadelo. [...]

Um pesadelo, de facto e o texto conta a seguir o que foi feito na Croácia, País com problema idêntico:

[...] O que fez a Croácia, face a um problema que só ameaça agravar-se e sem solução? Abriu um processo de “perdão” de dívidas até 5 mil euros aos cidadãos mais pobres, os que por isso tivessem contas penhoradas, um rendimento quase nulo e como único horizonte o abismo. [...]

E acrescenta:

[...] A ideia deste pioneiro programa croata, que terminou na passada sexta-feira e permitiu perdoar dívidas a uns 16 mil cidadãos (5% do total de devedores), é “começar de novo”, como se intitulou o programa, não é errar de novo. Se o sobre-endividamento continuar depois desta operação de “limpeza”, todos sairão a perder: os cidadãos e a economia do seu país. Pelo contrário, se tal acto permitir relançar as economias familiares e global em bases saudáveis, todos sairão a ganhar. [...]

Até aqui, está tudo certo. Tenho a certeza que nos países escandinavos, por exemplo,  o programa fazia faísca e dava bom resultado. Na Croácia, não sei porque não tenho informação bastante. Em Portugal, tenho dúvidas.
Talvez porque o perdão não é muito grande, abrangendo apenas dívidas até 5 mil euros, um universo de pessoas sem hábitos de consumo dispendiosos, é possível que tivesse sucesso. Na realidade, o problema maior do endividamento das pessoas e das famílias no nosso país penso que diz respeito a dívidas mais volumosas decorrentes da aquisição—além da habitação—de coisas não essenciais, como automóveis, electrodomésticos, viagens e por aí fora. Esse tipo de devedor português não tem cura. Pelo menos, o prognóstico é reservado. Mas também não interessa.
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