.
É comum ouvir-se que na defesa dos castelos medievais,
quando as coisas começavam a complicar-se, os cercados lançavam azeite a ferver
sobre os assaltantes que escalavam as muralhas. É uma boa imagem para
transmitir a situação de aflição dos sitiados. Nalgumas paragens não havia
azeite e as tradições resolvem o problema falando apenas em óleo. Tem a ideia
pés e cabeça, ou não passa de laracha inventada por um historiador já com uns
copos a mais?
Parece que a segunda hipótese é a mais verosímil. Os
óleos alimentares, incluindo o azeite, eram bens escassos, por um lado, e não
faltavam coisas tremendas—mais abundantes e baratas—a que lançar mão para combater
as invasões. Desde logo água a ferver, se estamos a falar de materiais ebulientes—levar
com uma panela de água a ferver na cabeça, ou com uma frigideira pronta a fritar
batatas não fazia muita diferença para o inimigo e aos castelões saía muito
mais barato, mesmo descontando as batatas.
Nem era preciso recorrer a tanta tecnologia. Os
defensores atiravam com calhaus enormes na cabeça dos atacantes, às vezes as
próprias pedras da muralha, e para melhor, aqueciam terra em água a ferver que se
agarrava à roupa dos assaltantes. A cal viva também dava jeito porque em
contacto com os olhos os deixava cegos.
Tecnologicamente muito bom era o fogo grego—mistura
de resina, breu e mais umas coisas—que se agarrava a roupa e era quase impossível
extinguir. E também os recipientes com enxofre a arder pendurados fora das
muralhas e de cujo fumo os atacantes fugiam como Diabo da Cruz.
A sofisticação bélica já vem de longe. Ainda não havia
mísseis de cruzeiro, mas a do azeite a ferver já era tosca de mais no tempo dos
ataques medievais. É aldrabice.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário