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[...] No ambicioso espírito do infante, cabiam as duas
empresas: conquistar o império marroquino, ou pelo menos o seu litoral, para
garantir o monopólio do comércio do Sudão; e ao mesmo tempo conquistar às trevas
as ilhas desse mar desconhecido, seguindo também o longo das costas ocidentais
para as visitar e explorar. Tenaz e até duro de carácter, D. Henrique sacrifica
tudo aos progressos da sua empresa: nem o dobram as lágrimas do irmão infeliz
sacrificado em Tanger, nem as súplicas do outro irmão, o nobre D. Pedro, talvez
por sua culpa morto em Alfarrobeira. Às conquistas da África imola os dois
príncipes; às navegações os seus ócios, as rendas da Ordem de Cristo, e as
vidas obscuras dos muitos que morreram ao longo das costas, ou na vasta
amplidão dos mares terríveis. Dominado por um grande pensamento, é desumano,
como quase todos os grandes-homens; mas, no limitado número dos nossos nomes célebres,
o de D. Henrique está ao lado do primeiro Afonso e de João II. Um fundou o reino,
outro fundou o império efémero do Oriente: entre ambos, D. Henrique foi o herói pertinaz e duro, a cuja força
Portugal deveu a honra de preceder as nações da Europa na obra do
reconhecimento e vassalagem de todo o globo.
Oliveira Martins in "História de Portugal"
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