domingo, 2 de agosto de 2015

O INFANTE DE SAGRES

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[...] No ambicioso espírito do infante, cabiam as duas empresas: conquistar o império marroquino, ou pelo menos o seu litoral, para garantir o monopólio do comércio do Sudão; e ao mesmo tempo conquistar às trevas as ilhas desse mar desconhecido, seguindo também o longo das costas ocidentais para as visitar e explorar. Tenaz e até duro de carácter, D. Henrique sacrifica tudo aos progressos da sua empresa: nem o dobram as lágrimas do irmão infeliz sacrificado em Tanger, nem as súplicas do outro irmão, o nobre D. Pedro, talvez por sua culpa morto em Alfarrobeira. Às conquistas da África imola os dois príncipes; às navegações os seus ócios, as rendas da Ordem de Cristo, e as vidas obscuras dos muitos que morreram ao longo das costas, ou na vasta amplidão dos mares terríveis. Dominado por um grande pensamento, é desumano, como quase todos os grandes-homens; mas, no limitado número dos nossos nomes célebres, o de D. Henrique está ao lado do primeiro Afonso e de João II. Um fundou o reino, outro fundou o império efémero do Oriente: entre ambos, D. Henrique foi o herói pertinaz e duro, a cuja força Portugal deveu a honra de preceder as nações da Europa na obra do reconhecimento e vassalagem de todo o globo.

Oliveira Martins in "História de Portugal"
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