quarta-feira, 5 de agosto de 2015

OS EMPLASTROS !

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Ascenso Simões é um cidadão de que em tempos falei, fascinado com o seu verbo quando escrevia sobre António José Seguro. Rezava assim: 

[...] António José Seguro assumiu, em si, três características que não vinham confirmando os fundamentos do PS. Elas eram, a origem decorosa de uma classe média rural; a construção de uma carreira política sustentada, unicamente, na endogamia partidária; e a ausência de uma visão global das ferramentas intrínsecas para a liderança nas ideias com comandamento no terreno. [...]

Melhor que isto só tinha lido em Vieira. Mas não era esta a primeira vez que Ascenso me deslumbrava. Já antes, sobre o facto de Cavaquinho não ter dado uma comenda ao Zezito, tinha eructado uma opinião que me levou aescrever o seguinte:

[...] Um tal de Ascenso Simões, dos homens mais conhecidos na rua dele, se não mesmo o mais conhecido, escreveu uma carta a Cavaco Silva. E que diz Ascenso? Ascenso chama a atenção do Presidente para o grave erro in procedendo de não incluir o Zezito na lista dos contemplados com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Mas Ascenso vai mais longe e informa o Presidente que muitos portugueses começam a questionar-se sobre as razões para que o Zezito seja excluído da lista de condecorados. Por isso, a notícia faz capa nos jornais. É, na realidade uma grande injustiça, digo eu—nas ruas não se fala de outra coisa.
Segundo o epistológrafo em apreço, terá sido a "necessidade de aceitar a implicação exterior em decisões que só ao país deveriam dizer respeito", quando era Primeiro-Ministro do Reino, que leva Cavaco à "negação de um gesto simples de condecoração". 
Ascenso, embora brilhante, é prolixo e receio que algum leitor não acompanhe o seu argumentário, lesto como gazela. O que Ascenso quer dizer mesmo é que o Zezito só nos arruinou a todos—a ele não!—e deixou Portugal humilhado e às ordens da troika. Apenas isso. E como foi só isso, não há razão para Cavaco não ter o gesto singelo de lhe pendurar ao pescoço, não a corda que merecia, mas um penduricalho que poucos portugueses ainda não têm. [...]

Pois Ascenso é hoje director da campanha eleitoral de António Costa, o que acho óptimo e é bem feito—Costa tem o que merece. Interrogado, nessa qualidade, pelo jornal "Diário Económico" sobre se o caso do Zezito vai prejudicar a campanha de Costa, respondeu lapidarmente, como nos habituou, e disse: 

[...] As questões relativas ao engenheiro Sócrates têm dois níveis. Tem o nosso nível individual, de sofrimento enquanto amigos de Sócrates e de quem fez um caminho com ele. E podia ter uma ligação com a vida política, mas sentimos que não tem. Na nossa pré-campanha essas questões não têm sido relevantes. Olhando para o passado fazemos projecção para o futuro. Como não tem existido essa implicação, acreditamos que não vai existir. A única coisa que espero pessoalmente é que esse assunto se resolva rápido. A sociedade portuguesa já faz uma separação consistente. [...]

A prolixidade de Ascenso mais uma vez exige esforço para captar a mensagem. O que o tribuno quer dizer é que os portugueses se estão a cagar para Sócrates—da mesma maneira que o fazem para Costa—e que isso não afecta em nada as suas intenções de voto porque também se cagam para o PS, para a coligação e para os resíduos partidários marginais, incluindo os sociais-fascistas e os Syrizas cá do sítio.
Mas o melhor ainda estava para vir. Perguntado sobre as diferenças entre o Zezito e Costa, Ascenso opinou assim: 

[...] São duas personalidades com grande dimensão política e capacidade de movimentar as massas como poucos. Talvez só Mário Soares e Sá Carneiro tivessem essa capacidade de atracção. Sócrates bastante mais irritadiço no fazer; Costa mais próximo e com maior capacidade de ouvir. Mas ambos igualmente determinados no objectivo central: sustentar um programa e fazer com que seja entendido, para que o resultado seja positivo. [...]

Dois gigantes só comparáveis ao Emplastro, digo eu!
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