Ascenso Simões é
um cidadão de que em tempos falei, fascinado com o seu verbo quando escrevia
sobre António José Seguro. Rezava assim:
[...] António José Seguro assumiu, em si, três características que não vinham
confirmando os fundamentos do PS. Elas eram, a origem decorosa de uma classe
média rural; a construção de uma carreira política sustentada, unicamente, na
endogamia partidária; e a ausência de uma visão global das ferramentas
intrínsecas para a liderança nas ideias com comandamento no terreno. [...]
Melhor que isto só tinha lido em Vieira. Mas não era esta a primeira vez que Ascenso me deslumbrava. Já antes, sobre o facto de Cavaquinho não ter dado uma comenda ao Zezito, tinha eructado uma opinião que me levou aescrever o seguinte:
[...] Um tal de Ascenso Simões, dos
homens mais conhecidos na rua dele, se não mesmo o mais conhecido, escreveu uma
carta a Cavaco Silva. E que diz Ascenso? Ascenso chama a atenção do Presidente
para o grave erro in procedendo de não incluir o Zezito na lista dos contemplados com a Grã-Cruz da Ordem Militar de
Cristo.
Mas
Ascenso vai mais longe e informa o Presidente que muitos portugueses começam a questionar-se
sobre as razões para que o Zezito seja excluído da lista de condecorados. Por
isso, a notícia faz capa nos jornais. É, na realidade uma grande injustiça,
digo eu—nas ruas não se fala de outra coisa.
Segundo
o epistológrafo em apreço, terá sido a "necessidade de aceitar a implicação exterior em decisões que só ao
país deveriam dizer respeito", quando era Primeiro-Ministro do Reino, que
leva Cavaco à "negação de um gesto simples de condecoração".
Ascenso, embora
brilhante, é prolixo e receio que algum leitor não acompanhe o seu
argumentário, lesto como gazela. O que Ascenso quer dizer mesmo é que o Zezito
só nos arruinou a todos—a ele não!—e deixou Portugal humilhado e às ordens da troika. Apenas isso. E como foi só isso, não
há razão para Cavaco não ter o gesto singelo de lhe pendurar ao pescoço, não a
corda que merecia, mas um penduricalho que poucos portugueses ainda não têm. [...]
Pois Ascenso é
hoje director da campanha eleitoral de António Costa, o que acho óptimo e é bem
feito—Costa tem o que merece. Interrogado, nessa qualidade, pelo jornal
"Diário Económico" sobre se o caso do Zezito vai prejudicar a
campanha de Costa, respondeu lapidarmente, como nos habituou, e disse:
[...] As questões relativas ao engenheiro Sócrates têm dois
níveis. Tem o nosso nível individual, de sofrimento enquanto amigos de Sócrates
e de quem fez um caminho com ele. E podia ter uma ligação com a vida política,
mas sentimos que não tem. Na nossa pré-campanha essas questões não têm sido
relevantes. Olhando para o passado fazemos projecção para o futuro. Como não
tem existido essa implicação, acreditamos que não vai existir. A única coisa
que espero pessoalmente é que esse assunto se resolva rápido. A sociedade
portuguesa já faz uma separação consistente. [...]
A prolixidade de Ascenso mais uma vez exige esforço
para captar a mensagem. O que o tribuno quer dizer é que os portugueses se
estão a cagar para Sócrates—da mesma maneira que o fazem para Costa—e que isso
não afecta em nada as suas intenções de voto porque também se cagam para o PS,
para a coligação e para os resíduos partidários marginais, incluindo os
sociais-fascistas e os Syrizas cá do sítio.
Mas o melhor ainda estava para vir. Perguntado sobre as
diferenças entre o Zezito e Costa, Ascenso opinou assim:
[...] São duas personalidades com grande dimensão política e
capacidade de movimentar as massas como poucos. Talvez só Mário Soares e Sá
Carneiro tivessem essa capacidade de atracção. Sócrates bastante mais
irritadiço no fazer; Costa mais próximo e com maior capacidade de ouvir. Mas
ambos igualmente determinados no objectivo central: sustentar um programa e
fazer com que seja entendido, para que o resultado seja positivo. [...]
Dois gigantes só comparáveis ao Emplastro, digo eu!
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