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Se fosse possível meter uma colher de chá na massa de um buraco
negro e tirar de lá um bocado, essa colher conteria em si um pequeno fragmento com
mais massa que todo o Monte Evereste. Exagero? Não!...
A maior parte do volume ocupado por qualquer corpo é espaço vazio —
assim como uma armação esférica de arame que ocupa imenso espaço e tem muito
pouco material, ou massa (os termos são toscos, mas servem para passar a
ideia).
Se olharmos para o esquema de um átomo de carbono, vemos que tem
no núcleo 6 protões (com carga eléctrica positiva) e seis neutrões (sem carga
eléctrica) — na figura, vermelhos e brancos, respectivamente —; e que à volta desse núcleo gravitam 6 electrões (com carga
eléctrica negativa). Tudo visto e respigado, a massa das 18 partículas
referidas é mínima, se a compararmos com o volume que a estrutura atómica
ocupa.
Agora transfiramos esta visão para um corpo volumoso como, por
exemplo, o do nosso Primeiro-Ministro. Se eliminarmos o espaço entre os
protões, neutrões e electrões dos átomos das suas molécula — orgânicas e
inorgânicas — e os juntarmos todos numa geringonça mais coesa que a
"geringonça" propriamente dita,
o espaço que passa a ocupar será
claramente "poucochinho" — seguramente (advérbio curioso no exemplo
vertente!), menor que a cabeça de um alfinete.
Em resumo, o aspecto do
nosso mundo é só fumaça, como diria o Almirante Pinheiro de Azevedo. Pode então
dizer-se que somos quase ocos? Claro que sim. O que não é oco é o material que
origina os buracos negros.
O parto de um buraco negro começa quando o combustível de uma
estrela muito grande — mais do que três vezes o Sol — chega ao fim. Esse
combustível é o hidrogénio, transformado no núcleo da estrela em hélio, por
fusão nuclear — o mesmo que se passa com a bomba de hidrogénio ao ser detonada, mas
a bomba de hidrogénio é um brinquedo de crianças quando comparada com o Sol.
Neste, 600 milhões de toneladas de
hidrogénio são convertidas em 596 milhões de toneladas de hélio por segundo. A
diferença de 4 milhões de toneladas é convertida directamente em energia, segundo a
famosa equação de Einstein E=mc2 — a energia produzida pela fusão é igual à diferença
da massa (em quilos) a multiplicar pelo quadrado da velocidade da luz (≈
4.000.000.000 X 300.0002).
Quando o hidrogénio acaba, e porque não há estações de serviço
para estrelas no espaço sideral, a fusão acaba. E sem o efeito expansivo da fusão
nuclear, a estrela colapsa em direcção ao centro, ou núcleo —
"mirra", "murcha", ou "fica chocha", e o volume diminui imenso. A sua massa fica quase toda contida num volume mínimo. Tal massa
tem uma força de gravidade que só visto: tudo que passa próximo é atraído e
incorporado na massa — pior, muito pior, que a Autoridade Tributária e Aduaneira!
Até a luz, que é uma entidade imaterial, é atraída e não sai mais de lá. Daí o
nome de buraco negro porque não se vê, mesmo que fosse profusamente iluminado:
a luz entra na sua esfera de acção — "horizonte de eventos" — mas não
sai.
Pelo exposto, percebe-se porque "uma colher de chá de buraco
negro" tem tanta ou mais massa que o Monte Evereste. A pena é que não
possamos usar "tecnologia de buraco negro" para armazenar e guardar
coisas em casa. Já viram o que seria, à noite, guardar o automóvel na mesa de cabeceira? Ou, no Verão, meter os cobertores numa caixa de fósforos? Baril!
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