quinta-feira, 2 de março de 2017

"MUTINY"

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Em 1789, o navio da Royal Navy "Bounty", a navegar de Tahiti para  as Índias Ocidentais, foi tomado de assalto pela tripulação amotinada que meteu o comandante, Tenente William Bligh, e alguns marinheiros fieis numa pequena embarcação de oito metros, com água e comida para cinco dias, e os abandonou sozinhos na vastidão do Oceano Pacífico. A viagem épica de 4.000 milhas e sete semanas até Timor é considerada uma das grandes histórias de sobrevivência marítima da Humanidade.
Em 2016, 9 homens, todos estranhos, partiram numa réplica da embarcação de Bligh e seus companheiros para reconstituir a viagem. O comandante, Anthony Middleton, antigo militar das forças especiais americanas, conduziu os recrutas numa empresa épica: alguns eram marinheiros com experiência, mas outros, incluindo um " faz-tudo biscateiro ", um jovem médico, um promotor comercial e um inenarrável  e colossal "chato",  eram tudo menos especialistas em sobrevivência. A embarcação foi equipada com câmaras de registo de imagens para a televisão e a aventura, com o título Mutiny,  transmitida pelo "Channel 4".
Ao quinto dia da viagem, foram apanhados por tremenda tormenta durante a noite, numa área recheada de rochas. As câmaras captaram a reacção daqueles pobres incautos que — literalmente — embarcaram no que parecia uma aventura "gira" e estavam agora a confrontar a realidade de condições potencialmente fatais. Um deles dizia, depois de atingidos por gigantesca onda a seguir a outras igualmente gigantescas, "estou agarrado à esperança de poder viver"; enquanto um companheiro, mais "erudito",  encolhido no fundo do barco e agarrado à mão de um companheiro, exclamava:  "Fod*-**, isto é assustador!
É difícil descrever "miséria" assim. Nove ingénuos, empacotados num pequeno barco aberto e à vela, a navegar com recursos do Século XVIII, com carta, bússola e sextante, a comer rações da mesma época — bolachas e carne salgada — e com condições sanitárias contemporâneas de Bligh, "aliviando-se" pela borda fora. Em todo o caso, sabiam que, em desespero, podiam pedir auxílio a um navio de socorro que os seguia a algumas milhas de distância, coisa que Bligh nem sonhava. Além dessa concessão, tinham coletes de salvação — um luxo!
Tal como Bligh, navegaram de ilha em ilha: Tonga, Fiji, Vanuatu, e ilhas ao largo da Austrália, antes de chegarem a Timor.
Middleton, com 36 anos, barba à pirata de Hollywood, extensas tatuagens e bicípetes de esperar num antigo marine que liderou 40 homens do Special Boat Service no Afeganistão, aguentou-se razoavelmente naquela cegada. Mas os outros, Senhor?  
Era isso mesmo que Middleton queria saber: se homens actuais aguentavam coisas assim. "Como líder, convictamente, acreditava que podia  pegar em qualquer homem na rua, envolvê-lo nesta viagem e praticar um dos mais duros feitos conhecidos de sobrevivência marítima", disse ele a um entrevistador.  
Middleton tem quatro filhos da sua mulher Emilie e outro de uma relação anterior. Emilie está habituada às suas ausências do tempo do serviço militar. Mas, mesmo no Afeganistão, comunicavam regularmente por telefone ou por e-mail. Esta foi a primeira vez que estiveram tanto tempo sem saber do outro. Foi pior que no Afeganistão porque no barquinho havia muito tempo livre para pensar, diz Middleton, homem de barba rija!


Este é o resumo de um artigo publicado hoje no "The Times" online. Pode ler (suponho!) o original no endereço seguinte: 
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http://www.thetimes.co.uk/edition/times2/mutiny-scraps-storms-and-trench-hand-all-in-a-23ft-boat-2ctwq7dl0?CMP=TNLEmail_118918_1400210
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