Em
1789, o navio da Royal Navy
"Bounty", a navegar de Tahiti para
as Índias Ocidentais, foi tomado de assalto pela tripulação amotinada que
meteu o comandante, Tenente William Bligh, e alguns marinheiros fieis numa
pequena embarcação de oito metros, com água e comida para cinco dias, e os
abandonou sozinhos na vastidão do Oceano Pacífico. A viagem épica de 4.000
milhas e sete semanas até Timor é considerada uma das grandes histórias de
sobrevivência marítima da Humanidade.
Em
2016, 9 homens, todos estranhos, partiram numa réplica da embarcação de Bligh e
seus companheiros para reconstituir a viagem. O comandante, Anthony Middleton,
antigo militar das forças especiais americanas, conduziu os recrutas numa
empresa épica: alguns eram marinheiros com experiência, mas outros, incluindo um
" faz-tudo biscateiro ", um jovem médico, um promotor comercial e um inenarrável e colossal
"chato", eram tudo menos
especialistas em sobrevivência. A embarcação foi equipada com câmaras de
registo de imagens para a televisão e a aventura, com o título Mutiny, transmitida pelo "Channel 4".
Ao
quinto dia da viagem, foram apanhados por tremenda tormenta durante a noite,
numa área recheada de rochas. As câmaras captaram a reacção daqueles pobres
incautos que — literalmente — embarcaram no que parecia uma aventura
"gira" e estavam agora a confrontar a realidade de condições
potencialmente fatais. Um deles dizia, depois de atingidos por gigantesca onda
a seguir a outras igualmente gigantescas, "estou agarrado à esperança de poder
viver"; enquanto um companheiro, mais "erudito", encolhido no fundo do barco e agarrado à mão de
um companheiro, exclamava: "Fod*-**,
isto é assustador!
É
difícil descrever "miséria" assim. Nove ingénuos, empacotados num
pequeno barco aberto e à vela, a navegar com recursos do Século XVIII, com carta,
bússola e sextante, a comer rações da mesma época — bolachas e carne salgada — e
com condições sanitárias contemporâneas de Bligh, "aliviando-se" pela
borda fora. Em todo o caso, sabiam que, em desespero, podiam pedir auxílio a um
navio de socorro que os seguia a algumas milhas de distância, coisa que Bligh
nem sonhava. Além dessa concessão, tinham coletes de salvação — um luxo!
Tal
como Bligh, navegaram de ilha em ilha: Tonga, Fiji, Vanuatu, e ilhas ao largo
da Austrália, antes de chegarem a Timor.
Middleton,
com 36 anos, barba à pirata de Hollywood, extensas tatuagens e bicípetes de esperar num antigo marine que liderou 40 homens do Special Boat Service no Afeganistão,
aguentou-se razoavelmente naquela cegada. Mas os outros, Senhor?
Era
isso mesmo que Middleton queria saber: se homens actuais aguentavam coisas
assim. "Como líder, convictamente, acreditava que podia pegar em qualquer homem na rua, envolvê-lo
nesta viagem e praticar um dos mais duros feitos conhecidos de sobrevivência
marítima", disse ele a um
entrevistador.
Middleton
tem quatro filhos da sua mulher Emilie e outro de uma relação anterior. Emilie
está habituada às suas ausências do tempo do serviço militar. Mas, mesmo no
Afeganistão, comunicavam regularmente por telefone ou por e-mail. Esta foi a primeira vez que estiveram tanto tempo sem saber
do outro. Foi pior que no Afeganistão porque no barquinho havia muito tempo livre
para pensar, diz Middleton, homem de barba rija!
Este
é o resumo de um artigo publicado hoje no "The Times" online. Pode ler (suponho!) o original
no endereço seguinte:
.
http://www.thetimes.co.uk/edition/times2/mutiny-scraps-storms-and-trench-hand-all-in-a-23ft-boat-2ctwq7dl0?CMP=TNLEmail_118918_1400210
..
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