sábado, 26 de junho de 2010

A JENNY DE JÚLIO DINIZ


Jenny era uma destas jovens inglesas, cuja suavidade e correcção de contornos, alvura e delicadeza de tez e puro dourado dos cabelos, lhes dão uma aparência tão subtil e vaporosa, e, quase direi, tão celestial, que se espera a cada passo vê-las desprenderem-se da terra e dissiparem-se, como instantânea visão luminosa, diante dos olhos, que por momentos ofuscaram.
Delicadas, como o arminho, que chega quase a subtrair-se à sensação do tacto, de delicado que é, estas poéticas organizações setentrionais possuem tanto de vago, tanto de imaterial, que, junto delas, apodera-se de nós, entes profanos e grosseiros, certo invencivel constrangimento, como se receássemos com um sopro desvanecê-las, crestá-las com o olhar, maltratá-las com o gesto.
Os desejos não voam até ali; rodeia-as uma atmosfera de virginal castidade, no seio da qual esses filhos alados da imaginação abatêm-se asfixiados.
Belezas, como ela, foram por certo as que inspiraram as imagens de virgens dos cantos de Ossian ao espírito de quem quer que foi seu autor, daquelas virgens, que o bardo comparava à neve da planície e cujos cabelos imitavam o vapor do Cromla, dourado pelos raios do ocidente.
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In “Uma Família Inglesa”
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