sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

"HOMO STUPIDUS"

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Cathal J. Nolan é professor de História Militar na Universidade de Boston e escreve hoje um artigo no AEON Magazine com o título "Wars are not won by military genius or decisive battles". Defende a tese, como o título indica, que as vitórias na guerra não dependem, primordialmente, de generais inspirados ou de batalhas decisivas. Há, segundo ele muitos outros factores a considerar que podem ser lidos aqui. Seleccionei o início do texto porque essa parte me parece uma bela peça. É assim:

A guerra, do ponto de vista físico e moral, é o empreendimento mais exigente em que nos envolvemos. Nenhuma grande obra de arte, ou música, nenhuma catedral, templo ou mesquita, nenhum transporte intercontinental, ou acelerador de partículas, nem nenhuma investigação para o tratamento de doenças que matam maciçamente, recebe uma fracção dos recursos que são investido para fazer a guerra; ou para recuperar dos efeitos da guerra; ou para preparar ou prevenir a guerra ao longo de décadas. A guerra é assim muito mais que um somatório de batalhas, apesar da história militar as apresentar como momentos fulcrais em que nascem ou morrem impérios num dia e muita gente pensar que as guerras se vencem dessa maneira, numa hora, numa tarde de sangue ou, talvez, em duas ou três. Temos de perceber todo o jogo e não ver apenas o resultado, o que é difícil porque a batalha é sedutora.
A guerra exalta a nossa fascinação pelo espectáculo e não há maior palco, ou actores mais dramáticos, que num campo de batalha. Fascina-nos o toque da trompa, a marcha da legião romana, o gesto do rei que desencadeia a carga de cavalaria. Grandes batalhas são teatro aberto com um elenco de dezenas de milhares da actores.
[...]
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Lido isto, pensa-se quanto custou a guerra X, a Y e a Z, e quanto custou a manutenção dos aparelhos militares da nações envolvidas nessas guerras, no intervalo entre elas — eventualmente muito mais.
Quantos porta-aviões entraram ao serviço em tempo de paz, quantas milhas navegaram, quantos aviões foram substituídos, quantas milhas voaram, quanto dinheiro se gastou em treino de novos militares, blá, blá, blá, até que foi tudo para a sucata, pessoal incluído, substituído por novo material mais eficaz, mais caro e cujo destino irá ser igual ao anterior que substituiu.
Chegado aqui, volto ao princípio: "A guerra, do ponto de vista físico e moral, é o empreendimento mais exigente em que nos envolvemos". É bem verdade! Pior que isso 
— é a mais flagrante manifestação da estupidez da humanidade  com letra minúscula.
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