A asneira é a mãe
de todo o saber. Aprende-se tanto com a asneira como com o acertado—talvez mais
porque é mais comum asnear que acertar. A asneira não é coisa para desdenhar,
mas antes para cultivar, acarinhar e
aprender com ela. Na ciência, a hipótese errada ensina tanto como a hipótese correcta.
O empreendedorismo de sucesso é fruto da experiência do insucesso. Um famoso
cirurgião americano dizia que a sua enorme perícia e seus inúmeros êxitos clínicos
assentavam num monte de cadáveres. O grande artista ensaia montes de lixo,
antes de criar o que o torna imortal. O mesmo para o engenheiro, o desportista,
o arquitecto, o piloto, rebabá.
A ascensão do Ocidente é em grande parte fruto da tolerância
para a asneira, o erro, a jericada. Imigrantes falhados, oriundos de países onde
a asneira é perseguida, conhecem o êxito em terras de acolhimento asno-tolerantes.
Uma das virtudes da ciência, talvez uma das principais promotoras do seu sucesso,
foi a admissão da burrice no método científico.
Um dos meios de provar a validade de uma
teoria, de uma doutrina, de uma técnica, é "espremê-la" até ela falhar. É a filosofia
do teste do algodão. Quase tudo falha,
se bem espremido. O valor da teoria, da doutrina, da técnica, mede-se pela
resistência à prova da asneira.
Do que me queixo—e aqui queria chegar—é que o XVIII Governo
Constitucional não resiste ao sopro de uma brisa estival—é asneira em cima de
asneira, até sem brisa nenhuma. Tanto também não! Abstenham-se de tomar tanto à
letra os panegíricos da cavalada e usem mais a borracha..
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