O Dr. Soares, Deus seja louvado, voltou. Um farol que se
acende para aqueles—como eu—que o liam assiduamente e temiam ter ele deixado de
os guiar. Mas não! Está de volta com as suas crónicas de análise profunda da
conjuntura, cheias de ideias sempre novas. Sei que todos os leitores o lêem
mas, ainda assim, não posso deixar de sublinhar algumas passagens da sua prosa
no "Diário de Notícias" de hoje.
Desgraçado país o
nosso. Tudo vai mal, pior do que nunca. O Governo está paralisado há muito
tempo e ninguém se entende na coligação.
O dinheiro
público serviu agora para comprar automóveis novos destinados não só aos
ministros como aos secretários de Estado e a demais funcionários.
Será que um tal
Governo, cujos elementos não podem sair sequer à rua sem serem vaiados, poderá
durar muito mais tempo? E subsistir até às eleições que estão à porta?
Francamente, não creio. O mais provável é que saiam de repente do País, quando
menos se espera...
Mas há mais. É
verdade que o Presidente da República não fala. Praticamente nada. E quando o
faz diz coisas sem sentido.
Para que serve um
Presidente da República que não fala e que é como se não existisse? Está de
resto próximo de deixar de ter poder.
Entretanto, tranquilizo os leitores porque fontes bem informadas dizem estar o Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras atento e não vai deixar fugir nenhum elemento do
Governo para parte incerta. E também porque a paralisia do Governo até é
benéfica—quanto menos se mexe, melhor.
Quanto ao Presidente
da República, é verdade que não fala, mas isso faz parte da sua natureza de
múmia paralítica e não é preocupante. É certo que não serve para nada mas, se
falasse, era a mesma coisa.
Quanto aos
automóveis, embora não seja a pessoa qualificada para aconselhar o Dr. Soares,
era melhor não se meter nisso. Por razões que só nós dois é que sabemos.
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