Tenho boas notícias e más notícias. Quais queres saber primeiro? A resposta à pergunta é, em todo o mundo, maioritariamente a mesma: "Quero saber primeiro as boas". Tanta dominância, deve ter uma razão. E tem.
Acontecimentos negativos afectam-nos muito mais que os
positivos. Se se tem um prejuízo financeiro, o abalo psicológico negativo é
muito maior que o abalo positivo de um aumento de rendimento, por exemplo.
Enquanto "mastigamos" o primeiro durante anos, às vezes toda a vida,
dependendo do montante, a satisfação do segundo dura tempo relativamente curto, até surgir desejo de novo aumento.
Esta não é conversa de café, não é palpite, não é bitaite.
Há centenas de estudos sobre isto, feitos em todo o mundo, que a confirmam. O
viés psicológico negativo, como se chama, é um facto. Processamos dados
negativos muito mais rapidamente e por muito mais tempo que dados positivos.
Esforçamo-nos muito mais para manter boa reputação que para a conquistar; emocionalmente,
trabalhamos mais para evitar a tristeza que para ficarmos alegres; do ponto de
vista da saúde somos mais hipocondríacos que optimistas; na política, avisos de
perigo são mais credíveis que as promessas de felicidade; e, numa fotografia de
multidão sorridente, notamos com presteza uma ou duas caras tristes.
Darwin, como quase sempre, explica tudo. Os nossos
antepassados tinham muito melhor sorte quando saltavam e fugiam de imediato de
um pau que parecia uma cobra do que os que paravam para ver melhor antes de
fugir. A natureza acabou com os racionais—também incautos, neste caso—e
seleccionou os irracionais com viés psicológico negativo, mais prontos—e mais
aptos—a evitar o perigo.
Os modos comportamentais referidos têm explicação em
características anatómicas e funcionais detectadas pelas neurociências no
cerebelo e correspondem ao que os anglo-saxónicos chamam fight or flight reflex, traduzido livremente por "reflexo luta ou
raspa-te". Lutar é louvável. Devemos apreciar quem o faz. Na maioria dos casos, é também pouco saudável.
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