[...] O discurso não tem princípio, meio e fim. Não passa
de uma lista arbitrária de evocações, exortações, visões, desejos, intenções,
desabafos, promessas, divagações. Os poetas estão lá para introduzir a
tonalidade lírica e onírica que convoca os ouvintes para sonhar. Sonhar com “um
caminho de mudança e de esperança” que não sabem qual é, onde está e para onde
leva. Sonhar com “fazer a diferença” que não sabem em que consiste nem no que
resulta. Sonhar com “uma outra visão, uma outra ideia do que pode ser Portugal”,
não lhes sendo dito quais sejam nem com que se parecem. E por aí fora, uma longa,
longa série de lugares-comuns e puras abstracções servidas numa pseudopoesia barata
e possidónia. Nóvoa revolta-se contra “uma austeridade” que fragilizou e
empobreceu Portugal e indigna-se com uma “política” incapaz de apresentar “uma única
ideia de futuro”. Lê-se e pasma-se: ele próprio não apresenta nem a sombra de
metade duma. Um voto em Nóvoa é um cheque em branco. [...]
[...] Porém, mais grave do que a hipocrisia, é a
incógnita política que Nóvoa representa. Sabemos que execra a austeridade, mas deixa-nos
no absoluto desconhecimento da alternativa que teria a oferecer—pelo motivo de
que nem ele sabe. É facto que jura renegociar a dívida “até ao limite do possível”,
mas ignora por onde passam o limite e o possível. Reconhece que somos prisioneiros
dos compromissos assumidos com a Europa e que “honradamente temos de os
cumprir”. Mas já nada nos obriga a cumpri-los “de forma ordeira”. Iremos todos em
voos fretados berrar para Bruxelas? A Europa, paradoxalmente e infelizmente, “transformou-nos a
todos em eurocépticos”. Há lá muito que mudar, “e seriamente”. E Nóvoa é o
homem providencial para abraçar esse combate e demonstrar ao mundo “que as
políticas de austeridade [não] são uma inevitabilidade”. Como a Grécia tem constatado, os credores europeus são fáceis de converter
e comover. [...]
O que se lê em
cima são dois excertos dum artigo de M. Fátima Bonifácio, publicado no "Público",
sobre Sampaio da Nóvoa. Além do transcrito, diz mais M. Fátima Bonifácio,
mas o referido basta.
A conversa de Nóvoa, como todos já perceberam, é caricaticamente
vazia—difícil, mas mais ridícula que a de Baptista Bastos. A Nóvoa só falta o
prontuário das palavras raras que Bastos comprou num caga-sebo do Bairro Alto
para encher os textos de palavrório rebuscado e encantar leitores parolos e
desprevenidos.
Voltando ao título do post, Nóvoa não diz nada; talvez o
melhor para ele. Em boa verdade, Nóvoa tem um programa claro, simples e linear.
O ex-reitor da Universidade de Lisboa (já tem direito a ser um ex-qualquer-coisa)
não quer o seu País "à beira de um rio triste". Isso lhe chega.
.
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