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A liberdade do leão é a morte da gazela. A afirmação é o título da resposta de Simon Blackburn, professor de Filosofia em Cambridge, à pergunta "É a luta pela liberdade individual mais causa que remédio para os problemas sociais que a maior parte das nações desenvolvidas hoje têm?
A pergunta é formulada por Mark de Silva, editor do AEON Magazine, no site da revista. Mark de Silva apresenta a questão de forma um nadinha elementar, referindo o estafado problema da liberdade individual que colide com a dos semelhantes e por aí fora, num registo que tive oportunidade de também comentar, mas não é disso que quero agora falar; nem sequer da resposta referida, do professor Simon Blackburn—fico-me pela dita frase, do leão e da gazela, matéria que dá para pensar: o problema dos predadores, ou da predação.
Diz-se, por exemplo, que a forma como é feita a evolução biológica darwiniana—com mutantes mais aptos que sobrevivem e mutantes menos aptos eliminados por isso—configura circunstância próxima do método de tentativa e erro, nada compatível com a narrativa do "Projecto Inteligente" ou "Desenho Inteligente" da Criação, património não exclusivo dos criacionistas: mesmo evolucionistas crentes aceitam que a tentativa e erro da evolução foi projectada por um Criador, omnisciente e omnipotente, apesar de configurar método de produção impensável na indústria moderna.
Da mesma forma, a predação tem contornos aparentemente toscos, piores que a referida tentativa e erro: a liberdade do leão é a morte da gazela, ou seja, o direito à sobrevivência de predador dá-lhe autorização para matar e comer a gazela quando tem fome. E o homem tem direito a matar todos os animais, inclusivamente de os criar com o único propósito de os comer um dia, quando lhe seja necessário; e até sem ser necessário, como actividade lúdica: cria caracóis para numa tarde de canícula devorar uns tantos a acompanhar umas bejecas e fica tudo na maior depois de uns tantos arrotos!
Não entendo a obra dum Ser Supremo, omnisciente, omnipotente e omnipresente, que me deu uma cabeça tão bem feita, a ponto de achar mal aquilo que Ele fez. O defeito, claramente é meu e, sendo assim, suspeito que a cabeça doada não é tão bem feita como julgo.
Parafraseando Francisco, quem sou eu para julgar seja quem for, muito menos o Criador? Mas que me custa e entender, isso custa. Só tenho esta cabeça!.
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