No indispensável livro "Cercado", de Fernando Figueiredo—sobre as artes malabares do Zezito—, há informação importante, mas sobretudo aprende-se muito com ele.
Todos sabemos que há frequente manipulação de dados na
comercialização dos livros publicados para os promover, mas isso habitualmente é com os editores. Do ponto de vista da mais elementar ética, que nem precisa
de ser "republicana", ser o autor a promover, pelos próprios meios, "esquemas",
como lhes chama o Ministério Público, é mau. Muito mau. E muito pior quando se trata de um
ex-Primeiro-Ministro, mesmo que esse ex-Primeiro-Ministro seja o inenarrável
Zezito.
Pasma-se com o comportamento autopromocional de "vendedor
de jogo branco" do homem e fica-se esclarecido sobre a sua personalidade.
Repare-se que há arguidos que assumem a borrada. Zezito N-E-G-A!
Leia-se o excerto a seguir do referido livro e tirem-se ilações.
Ao autor, as minhas desculpas por revelar passagens da
obra, mas não é 'O Dolicocéfalo' que lhe irá tirar compradores. Felizmente
para ele, verifico nas livrarias que o livro se vende mais que tremoços no mercado.
.
Carlos Alexandre é taxativo: "Em Outubro de 2013,
José Pinto de Sousa lançou, através da editora Babel, um livro sob o título A Confiança no Mundo. De forma a garantir
o sucesso de vendas da mesma publicação [...] angariou uma rede de
colaboradores destinada a angariar aquisições de exemplares do mesmo livro em
diferentes pontos do País, aos quais passou a fazer entrega de fundos, a fim de
realizarem as referidas aquisições".
As pessoas que terão participado neste "esquema",
como o define o MP, têm nome: André Figueiredo, Renato Sampaio, João Perna,
Gonçalo Ferreira, Carlos Martins, Inês do Rosário, Rui Mão de Ferro e Maria
Lígia Correia. A peça central será mais uma vez Carlos Santos Silva. Terá sido
o empresário a disponibilizar aos elementos desta rede um montante de 170.000
euros para aquisição de perto de 10 mil exemplares. O resultado foi o esperado:
A Confiança no Mundo—livro
apresentado no Museu de Electricidade, em Lisboa pelo ex-Presidente Brasileiro
Lula da Silva e por Mário Soares com grande pompa e circunstância—transformou-se
num fenómeno de vendas e esteve várias semanas no primeiro lugar do top de não ficção das livrarias, ultrapassando
mesmo fenómenos de vendas na área da ficção como Miguel Sousa Tavares ou
Margarida Rebelo Pinto.
Nas escutas telefónicas feitas pela investigação
verificou-se que, a dada altura, os alegados "emissários" de José
Sócrates começaram a utilizar alguns expedientes para "não atrair as atenções"
dos empregados dos pontos de venda, optando por adquirir exemplares em locais
com pontos de pagamento automático, como supermercados e lojas da FNAC.
Só em nome da companheira de João Perna foram feitas nove
aquisições, num total de 134 livros—ou seja, uma média de 14 livros por visita.
Também Gonçalo Trindade Ferreira, advogado de Santos Silva e igualmente arguido
no processo, admitiu no interrogatório do MP, ter adquirido 20 a 50 livros—os
investidores viriam a apurar que foram muitos mais: a última contagem ficou-se
pelos 1.916 exemplares, correspondendo a um investimento superior a 20.000
euros.
Outra pessoa que o MP envolve no negócio é Inês do
Rosário. A função da companheira de Carlos Santos Silva seria a entrega de
dinheiro vivo quer a José Sócrates—que, ao contrário dos restantes envolvidos,
afirmou desconhecer este "esquema"—, quer a outros elementos.
A rede—que, de acordo com o MP, terá sido financiada com
dinheiro que, na realidade, seria de José Sócrates—possuía ramificações em
vários pontos do País. No Porto, por exemplo, terá sido Renato Sampaio,
deputado, ex-líder do PS local e grande amigo de Sócrates a encarregar-se das
compras. Na Covilhã, esse papel coube a Carlos Martins, amigo de juventude,
vice-presidente da Câmara Municipal da Covilhã e homem-forte do aparelho
socialista no distrito*. Em Lisboa, André Figueiredo é apontado pelo MP como um
dos envolvidos. A fechar a lista estão Rui Mão de Ferro, gestor e sócio de
Carlos Santos Silva, e uma funcionária do PS, Maria Lígia Correia.
Na sua contestação, Carlos Santos Silva admitiu o
envolvimento no "esquema", mas não se desviou um milímetro em relação
à que tem sido a sua argumentação: "Foi verdade, mas ao que o recorrente
julga saber não constitui crime algum. É verdade que quis suportar a aquisição
do livro do José, que quis promover o seu amigo. É censurável? Talvez. É crime?
Não é crime."
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