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Em 1975, Álvaro
Cunhal, em resposta à pergunta da jornalista italiana Oriana Fallaci sobre o
que ele entendia por democracia, respondeu assim: Não certamente o que vocês, os pluralistas,
entendem. Para mim, democracia significa liquidar o capitalismo e os
monopólios. E ainda lhe digo mais: Portugal já não tem qualquer hipótese de
estabelecer uma democracia ao estilo das que vocês têm na Europa ocidental.
Garanto-lhe que em Portugal não haverá um parlamento. Não queremos uma
democracia como a vossa. Portugal não será um país com as liberdades
democráticas e os monopólios. Não será companheiro de viagem das vossas democracias
burguesas. Porque não o permitiremos. Talvez voltemos a ter um Portugal
fascista (ainda que eu não acredite nisso). Mas seguramente que não teremos um
Portugal social-democrata. Jamais. Deixei isso bem claro?
Em conformidade, o PCP actual, herdeiro do
social-fascismo de Cunhal, não participa em governos de coligação da democracia
burguesa. Ou toma de assalto o poder e acaba com ela, como
fez a seguir ao 25 barra 4, ou fica na oposição, a chatear o pagode burguês na
Assembleia da República e nos sindicatos.
Cunhal era um sacana e um cágado que sabia muito. O mesmo
não se pode dizer de Tsipras e do seu inenarrável Syriza. Os gregos pregaram-lhes
uma bela partida ao elegê-los, com maioria absoluta ou quase, há meio ano.
Tsipras estava a fazer peito para ficar com numerosa bancada no Parlamento a
chatear o pagode burguês, mas o tiro saiu pela culatra: meteram-lhe a criança
nos braços.
Depois de ene borradas em casa e em Bruxelas, acolitado
pelo sinistro Facas, acabou a governar, ou melhor dizendo, a pensar que governa,
apoiado pelos partidos burgueses, coisa ridícula para um radical como ele.
Tsipras já aprendeu que na prática a teoria é outra e
anda morto por descalçar as botas que os gregos lhe enfiaram nos pés. Só não dá
de frosques porque tem vergonha; mas a senhora sua mãe diz aos jornalista que o
filho come mal e dorme pior ainda.
Hoje, Tsipras anunciou ao planeta azul: "Se não
tivermos maioria no Parlamento, seremos forçados a eleições". Era bom, mas
espero que os gregos o elejam novamente com maioria absoluta. O sacana do
Kissinger, na altura do PREC em Portugal, dizia a quem o queria ouvir que o
Cunhal era uma coisa boa porque funcionava como vacina para o resto da Europa.
Tal e qual como Tsipras—tão cedo, nunca mais é eleita uma coisa assim em parte
nenhuma do mundo—fora do Burkina Faso, do Burundi e da República Centro-Africana.
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