No passado dia 15, Vital
Moreira escreveu no Económico" o texto que se transcreve em baixo, com o
título "Duas Lições". Para quem, como eu, o conhece há muitos anos, é
caso para dizer como o Peça: E esta, hein?
O problema é que a estratégia política do Syriza era desde o início uma receita para o desastre, como se provou nas últimas semanas, e falhou porque até agora nenhum país descobriu como viver indefinidamente à custa do défice e do endividamento, ou seja, à custa alheia, especialmente quanto à demagogia política se soma a incompetência económica.
O Governo Syriza paralisou as reformas que começavam a dar frutos e reverteu algumas delas. A economia entrou de novo em recessão. O investimento estrangeiro fugiu, as receitas públicas retrocederam e as contas reentraram em défice. Milhares de milhões de euros fugiram dos bancos; entrou-se em emergência financeira com controlo de capitais e limitação de levantamentos. E, por último, a Grécia falhou um pagamento do FMI, o que nunca tinha sucedido com um país europeu.
Com isto tudo as necessidades de financiamento e de assistência financeira externa do país aumentaram substancialmente.
Há seis meses, o Syriza prometia o fim da austeridade e a bem-aventurança económica. Agora, mais pobre, a Grécia é obrigada a pedir um terceiro resgate, ficando "intervencionada" por mais três anos e sujeita a mais austeridade orçamental.
Sim, com o Syriza a Grécia acabou por dar uma lição edificante aos demais países da zona euro. Mas a lição é justamente o contrário da pretendida, ou seja, a de que a na moeda única há regras a cumprir e que não se pode ter mais orçamento do que a economia permite.
2. Além dos enormes custos económicos e financeiros, a desastrada aventura Syriza também teve pesados custos políticos para a Grécia.
Um deles foi o descrédito da democracia. Poucos dias depois de rotundo "não" no referendo precipitadamente convocado, o Governo grego já estava a propor aos credores condições idênticas às rejeitadas, acabando por negociar um acordo ainda mais duro. O "não" do referendo foi transformado rapidamente num "sim", sem que o governo tivesse sentido necessidade de se demitir ou ao menos de renovar a sua legitimidade parlamentar. Na democracia à Syriza brinca-se aos referendos e com os cidadãos como simples instrumento de manipulação política.
Mas o preço maior é a perda de confiança e de credibilidade externa da Grécia, que vai demorar muito tempo a recuperar.
Só a irresponsabilidade política e a falta de seriedade negocial do governo Syriza é que podem justificar que os credores tenham exigido a aprovação prévia de legislação em Atenas para só depois fechar o acordo, bem como a constituição de um fundo independente de ativos de privatizações para, entre outras coisas, recapitalizar os bancos gregos. Nenhum outro país sujeito a assistência financeira teve de se submeter a estas comprometedoras garantias preventivas.
Esta é a segunda lição a tirar da Grécia: o esquerdismo político paga-se muito caro. Na oposição o radicalismo de esquerda só pode ser um protesto ruidoso; no governo pode ser um pesadelo.
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(Com colaboração de J. Castro Brito)
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