O título deste post é o título da terceira parte
da crónica de Alberto Gonçalves no "Diário de Notícias" de hoje " e diz respeito ao general Ramalho Eanes. Começo por esclarecer que Eanes é uma
das poucas figuras do pós 25 barra quatro que me merece respeito pela sua coragem
e integridade—é um homem sério (coisa rara), a quem devemos, juntamente com
Jaime Neves, o facto de não sermos hoje uma "Venezuela" na Europa. Do ponto
de vista intelectual, a natureza não foi muito generosa com ele; mas há pior e
ainda por cima acumulando com alarvice.
Escreve assim Alberto Gonçalves:
Para quem passou
boa parte de dois mandatos presidenciais a congeminar projectos de poder
pessoal, a longa reforma de Ramalho Eanes tem sido de uma discrição
extraordinária. Por isso é mais lamentável vê-lo hoje a tentar o regresso à
política de "influência", para cúmulo através da colagem a uma figura
do calibre de Sampaio da Nóvoa, que suscita menos entusiasmo do que uma
torradeira.
Pior ainda: além de
apoiar a candidatura, Eanes passou a falar como o candidato. Já soltou por aí o
"tempo de despertar e reabilitar a cidadania", o
"amorfismo", a "sociedade civil", a "inspiração
criativa", a "igualdade na dignidade" e a "participação
sistemática, empenhada e responsável". Se a ideia é produzir lirismos sem
tino, os saraus literários e os menus da cozinha contemporânea cumprem
perfeitamente a função. Era escusado assistir à descida do herói do 25 de
Novembro a tais abismos.
Eanes, porém, não se
esqueceu de referir alguém "descomprometido com as elites
político-partidárias". Se queria dizer que ninguém está muito disposto a
patrocinar o Prof. da Nóvoa, Eanes acertou em cheio.
Alberto Gonçalves é mau, sarcástico e verrinoso, mas damos-lhe o desconto preciso para desfrutar a graça que tem, necessária para prevenir distracções nossas.
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