Galileu
foi uma personagem que sempre fascinou
quem lê história da Ciência. Tudo que se encontra sobre ele é laudatório,
entronizando-o como figura científica superior, incompreendida na sua época, vítima
de perseguição pelo obscurantismo religioso. Stephen Hawking escreveu no
livro A
Brief History of Time: "Galileu, mais do que qualquer outro, foi
responsável pelo nascimento da ciência moderna". Pois bem — tal ideia não
é consensual, cheguei hoje a essa conclusão. É Galileu um mito?
Thony Christie,
historiador da Ciência e editor do blog
The Renaissance Mathematicus, pergunta, num artigo intitulado
"Galileo´s Reputation is more Hyperbole than Truth": o que fez
Galileu realmente e donde veio a sua imagem de super-herói? De acordo com Christie,
a grande "prenda" de Galileu foi o telescópio, que ajudou a desenvolver
e com o qual fez preciosas observações astronómicas.
Consciente
de tal e de que isso correspondia à "taluda" na lotaria científica, apressou-se
a publicar tudo que observava e mais um par de botas a partir do início de 1610. Da noite para o dia, tornou-se o mais
conhecido astrónomo da Europa. Contudo, Galileu não era o único observador
telescópico da época e todas as descobertas que fez foram feitas simultaneamente
por outros contemporâneos na Inglaterra, Alemanha e mesmo na Itália. Tal ponto
de vista não é conciliável com o do mito em que se transformou, segundo, Christie: se Galileu não
tivesse usado nunca um telescópio, nada seria diferente na história da
Astronomia.
E, embora a sua defesa
da Teoria de Copérnico — apresentada no livro Dialogue Concerning the Two Chief World Systems (1632) — lhe tenha trazido a notoriedade do julgamento
pela Inquisição e a prisão domiciliária, isso não o fez ganhar a batalha do
heliocentrismo. Essa honra vai para Johannes
Kepler, cujas publicações ignorou no
seu livro. A contribuição de Galileu para a vitória do heliocentrismo terá sido poucochinha, como a vitória de Seguro.
Por vezes, diz-se que Galileu foi o
gigante em cujos ombros Newton se apoiou; mas a sua real influência foi mínima.
A elevação à santidade científica fica a dever-se, em grande parte, ao estilo
brilhante da sua prosa em obras de retórica soberba e polémica, deliciosas
peças lúdicas com muito melhor forma que conteúdo. Além de que eram ilustradas
genialmente, com imagens da sua autoria — além de bom observador astronómico,
era um apurado prosador e inspirado artista plástico.
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