Anaxágoras, filósofo grego da antiguidade, terá dito um
dia que é por ter mãos que o homem é o mais inteligente dos animais. Na época de
Anaxágoras, as mãos serviam para trabalhar, escrever, comer, aclamar, acariciar,
cumprimentar, apoiar, apontar, lavar, e número incontável de outros
objectivos, todos relacionados com o ambiente próximo. A mão, como os olhos e o
ouvido, era uma das mais importantes peças da anatomia humana na relação com o
meio. Grande parte do desenvolvimento da humanidade fez-se à custa da
informação colhida e trabalhada pela mão.
Hoje, a mão
serve cada vez mais— e quase apenas! — como suporte do telemóvel, ou do smartphone, os "cérebros" humanos do Século XXI. O homem vai-se desligando progressivamente de
operações mentais como memorizar compromissos, fazer contas, respeitar normas
ortográficas, guardar percepções visuais, saber "quantos são hoje", qual o dia em que o Benfica joga
e com quem, ou se o Sporting tem menos dez ou doze pontos que o
"Glorioso". Se há dúvidas, é só accionar o "tijolo
electrónico" para as tirar em segundos! Os namorados sentam-se nas
esplanadas e o namoro consiste em, cada um para o seu lado, navegarem por locais diferentes
do "éter", seja na música, nas mensagens de amigos, nas notícias, em álbuns
fotográficos, fofocas e coisas similares.
O conceito
original de conviver implicava proximidade física. Já não é mais assim! Hoje, convive-se
com os telemóveis e smartphones,
trocando mensagens etéreas lançadas no espaço para a torre de comunicações mais
próxima, onde aguardam que o destinatário as receba. Mesmo com duas mãos, o namorado já não
consegue segurar o telemóvel ao mesmo tempo que a mão da namorada!
Se Anaxágoras
cá viesse, a surpresa seria grande. Provavelmente escreveria que é por ter mão que o homem está a cada vez mais estúpido — Homo insapiens!
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